Muitos aspectos da construção da
identidade de gênero masculino e feminino são, realmente, culturais e
questionáveis, mas, outros tantos são produções diretas das funções masculinas
e femininas construídas pela própria natureza, com vistas ao melhor funcionamento
e preservação da espécie humana e de outras.
Comportamentos esses edificados
através de respostas instintivas e, fielmente, atreladas às funções orgânicas
de cada unidade corporal física e psicológica ao longo de milênios e milênios.
Inúmeros de nossos comportamentos
de gênero não são construções culturais, mas, estão, intimamente atrelados às funções
biológicas de cada ser e sua participação na ordem da vida planetária.
Isso não se muda: a natureza é
soberana e alheia às polêmicas e ondas culturais de nossa espécie. O que não
funcionar vai passar. A Natureza seleciona aquilo que serve ou não serve para
propósitos que vão além das fantasias das pessoas, quaisquer que sejam as
épocas.
Nós pertencemos à biologia do
planeta e a isso somos submissos, quer delirantes onipotentes queiram ou não. A
infantilidade da ideologia de gênero está em acreditar que tudo podemos. Um pouquinho de estudo de seleção
natural ajuda a desmanchar facilmente essa ilusão.
A meu ver, a teoria de J. Butler está, parcialmente, errada e parcialmente certa.
Errada quanto à perspectiva
excessiva em que coloca o peso cultural na construção das identidades sexuais e
de gênero, mas, certa quando aponta que nem tudo pertence ao reino do masculino
ou ao reino do feminino, exclusivamente.
Por exemplo: a divisão social do
trabalho é algo que pode e deve ser revisto no quesito "mulheres fazem
isso, homens fazem aquilo e devem aprender esse padrão desde a mais tenra
infância" produzindo esse rígido modelo.
O furo da teoria está no fato que
J. Butler passa do ponto ótimo ao generalizar e propor que não deveria haver
gêneros definidos. Essa definição quem deu foi a natureza, o humano apenas
recebe isso ao nascer e se submete a uma ordem cósmica e planetária na qual,
por algum motivo foi inserido. O que a História do ser humano tem feito é
identificar tendências e comportamentos instintivos de machos e fêmeas,
reafirmá-los e reproduzi-los através de gerações e gerações.
Essa generalização de J. Butler
pode, possivelmente, estar estruturada em recalques e ressentimentos pessoais
da autora, somados às conveniências das grandes corporações para as quais a
indiscriminação de gênero poderia aumentar significativamente o número de
consumidores, já o consumo de seus produtos podem, a partir da desconstrução
das identidades sexuais, dobrar: todos podem comprar tudo!
Fora o fato que quanto mais gente
perdida maior o número de engolidores de ilusões.
E, repito: essa é também mais uma assombrosa estratégia da selvageria pró-consumo:
abolindo os gêneros, multiplicar-se-ia o número de consumidores, já
que, sem gêneros, todos passariam a "poder" comprar tudo. E as massas de
manobra caem nessa conversa fiada, ideologia barata e incoerente...E
ainda acham que isso é respeito à vida...Ideologia de gênero é, na
verdade, um atentado à vida. Deus nos defenda...
Um outro erro da teoria (além da
negação patológica da realidade pela negação da organização prévia dada pela da
natureza que compôs dois sexos) é quanto à forma de resolver a questão a os
conflitos internos e externos de gênero naquilo que a cultura realmente precisa
rever quanto à distribuição de rótulos: isso é só para homens, isso é só para
mulheres.
E há muito o que ser revisto,
mas, há coisas que são imutáveis. A essência não se muda. Não está ao alcance
humano mexer na ordem biológica, planetária e cósmica.
Querer mexer na essência da
organização da vida e da preservação da espécie não passa de delírio de
grandeza, de perda do pé da realidade, de loucura.
Não é abrindo mão de todo um
repertório de comportamentos funcionais testados ao longo da história da h
O caminho do meio é sempre o melhor e isto se faz, nesse caso, triando
aquilo que pertence a cada sexo exclusivamente e agregando novos comportamentos
naquilo que pode funcionar e ser desempenhado por ambos.
Uma mulher não é
apenas mulher porque tem vagina e seios, mas, tem hormônios femininos que
caracterizam sua forma de pensar, sentir e agir. O mesmo ocorrendo com os
homens; eles não são homens apenas porque têm pênis, mas, por todo um conjunto
fisiológico e psicológico que os faz pensarem, sentirem e agirem como homens,
cumprindo um ritual que não nos pertence, mas, sim a natureza que nos fez, que
pertence ao Criador da vida.
A natureza vai confirmar ou
descartar, segundo a seleção natural, o que preserva a existência e o que a
destruiria, conservando ou descartando num ciclo sem fim. Precisamos renunciar
à fantasia de onipotência. Somos seres limitados e potencializados ao mesmo
tempo. Limites limitam e potencializam.
A vida é regida pelo princípio da
economia: fazer mais com menor custo de energia vital. O que não for econômico
para a espécie, mais cedo ou mais tarde, acaba sendo descartado. É assim que
corre o processo evolutivo. Precisamos aceitar isso. Não somos os donos da
vida. Ela é um presente que aceitamos ou não.
A ideologia de gênero, por sua
proposta de negação da realidade implica em um recusa à vida como ela foi
presenteada a cada um, enquanto oportunidade única, a partir daquela
configuração corporal que nos foi oferecida. Sem essa renúncia e essa humildade
nada frutificará.
O que precisamos para evoluir é
colocar em ordem as coisas e não incitar a desordem.
Creio que a ideologia de gêneros,
de manipulação de massas, de desconstrução das identidades de sexuais, mais do
que um avanço é a propositura da loucura globalizada.
Porque ela não propõe respeitar
diferenças, mas, eliminar diferenças e isso seria o caos, a confusão.
Falta à ideologia de gênero (e
quiçá à J. Butler, já que "a fruta não cai longe da árvore”),
fundamentação, inteligência, profundidade e amplitude de raciocínio.
Trata-se, a meu ver, de uma
teoria rasa e tosca, apropriada a um mundo sofrido e carente de direção.
Carência esta, a qual a autora e as grandes organizações capitalistas de
consumo se aproveitam para buscar seguidores, manipulando e desnorteando a
população mundial.
Sob minha ótica, falta à autora conhecimento histórico e o exercício de
neutralidade científica minimamente necessários à construção de qualquer
conhecimento científico válido.
Da ausência dessa busca de
neutralidade científica decorre o flagrante seu viés de leitura da realidade - nitidamente percebidos na
ideologia de gênero - e, possivelmente, embasados em conteúdos e recalques
inconscientes - ou não - da autora.
Valéria Giglio
Ferreira
Psicóloga e Educadora
www.amar.psc.br