HISTÓRIAS DE BULLYING
Por Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga
Creio que algumas crianças aprendam a reproduzir o bullying que assistem e do qual, muitas vezes, são alvo.
Já outras crianças, possivelmente mais dóceis, se calam estarrecid
© amar@gmail.com
Todos os Direitos Reservados*.
Lei nº 9.610/98 - Lei de Direitos Autorais
Por Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga
Creio que algumas crianças aprendam a reproduzir o bullying que assistem e do qual, muitas vezes, são alvo.
Já outras crianças, possivelmente mais dóceis, se calam estarrecid
as
diante dos agressores, deprimem e frequentemente, se tornam alunos/as
improdutivos/as, se não, definitivamente, por um período: até juntarem
forças, metabolizarem e entenderem o que aconteceu recuperando sua
autoestima e autoconfiança.
Esse resgate, em geral, ocorre com a ajuda de alguém que a vida providencia e que se ocupará de lhes espelhar seu cisne interno, suas capacitações e potencialidades, como tão bem retrata a estória "O Patinho Feio".
Em meu entendimento, "O Patinho Feio" é um personagen que exemplifica claramente a história das vítimas de bullying, mas, somente daquelas que conseguiram superá-lo atravessando a barreira das devastadoras feridas narcísicas que ele deixa.
No que diz respeito às crianças que aprendem esses modelos de comunicação agressiva e os reproduzem, diria que isso é assimilado primeiramente na relação com seus próprios familiares, mas, também com determinados tipos de professores/as que em nome da "boa educação" despejam sobre as crianças suas frustrações e violências contidas, projetando nos pequenos/as seus aspectos psicologicamente sombrios - como o fazem também muitos pais, mães, babás, etc.
Essas crianças apenas passam a utilizar socialmente as regras de convivência que aprenderam com os adultos que lhe são próximos, tomando isso como o certo e o normal entre os humanos. São meros reprodutores do que lhes ensinam.
E muitas, passam de agredidas a agressoras num ciclo que se auto-perpetua: de abusados/as a abusadores.
Precisamente nesse ponto vejo a necessidade urgente da reeducação de adultos, especialmente, no que diz respeito à PRÁTICA DA COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA sendo substituida pela COMUNICAÇÃO ASSERTIVA.
Bullying é o assédio verbal, físico, psicológico e emocional diante dos indefesos/as.
- Tudo em nome da "boa educação", da normatização social, da supressão das diferenças humanas, da exclusão do diferente para menos ou para mais.
E embaixo desse véu da "boa educação" está a loucura oculta, reprimida e mal-tratada de tantos adultos: pais, mães, professores, etc e suas crianças interiores.
Lembro-me de eu própria de ter sido vítima de bullying.
Até hoje, recordo-me claramente das cenas de agressão psicológica e moral em que a professora Gilda P. de F., de matemática, da escola de freiras... admirada por ser "linha dura, ela" jogava sua sombra e sua loucura sobre mim. Recordo-me da exposição a que me submetia e de sua cara de má.
Graças a ela e a mostruosidade do que ela fez comigo, fui, a partir dali, acometida por uma severa ansiedade de desempenho desembocada em uma Síndrome de Pânico que perdurou décadas.
Em minha estrutura emocional de criança, o que conclui com aquela experiência de bullying e de agressão encoberta pelo véu da pedagogia barata vinda da "professora-monstro" foi que "a despeito do que você esteja sentindo ou passando que possa te fragilizar para a produtividade escolar ou para o desempenho em público, há pessoas neste mundo que não tem piedade para com quem fracassa - mesmo que essa pessoa seja uma criança cheia de problemas pessoais e familiares e, portanto, diante delas, ou você faz sucesso ou será inevitavelmente um excluido, um segregado/a social", exatamente como havia acontecido comigo naquele difícil ano.
Lembrando ainda que em muitos casos, é deste tipo de situação que decorre o desenvolvimento da chamada "PERSONALIDADE TIPO A": aquela em que os indivíduos ficam mais expostos à cardiopatias em virtude de terem sido "informados" por alguma situação disfuncional, de que só seriam amados/as se fizessem sucesso, tendo muito dinheiro e fama; então, para serem amados/as e não serem abandonados nem terem seu "coração partido" pelo rompimento com o ser querido, jogam tudo no desempenho de alta performance, o que costuma, por conseguinte, expor demasiadamente a saúde de seu coração... Aí então, só Jesus Cristo para proteger e mudar o rumo da vida!
Mas, voltando à prof. Gilda, o curioso é que em minha ingenuidade de criança, fiquei espantada quando ela apareceu grávida. É como se na inocência da meninice eu não conseguisse entender como uma pessoa de atitudes tão perversas, tão inimaginavelmente carinhosa com quem quer que fosse pudesse ter conseguido algo tão sublime como conceber e gerar uma criança! Lembro-me de ter ficado espantada quando a vi barriguda. Eu ainda não sabia que concepção não depende de bondade!
Assim, a revelação dos mistérios da matemática só fui aprender no ano seguinte com uma mestra, doce, meiga, vocacionada para o ofício de ensinar - Dona Mirta. Mas, como ser anti-pedagógica e o que jamais fazer como professora ficou muito claro naquela experiência com a G.
Não citarei o seu sobrenome da professora-monstro em respeito a ela - o respeito que ela não teve por mim.
Cada um com a sua natureza...
Deste modo, incluiria entre as vítimas de bullying, crianças com uma maior sensibilidade interpessoal, de bom coração, treinadas para respeitar o próximo, e que, por muitos motivos pessoais e de criação, não desenvolveram "imunidade social" para lidar com pessoas competitivas e agressivas, quanto mais se estiverem encarnando figuras de autoridade.
Diante delas, não sabem o que fazer, ficando paralizadas e tornando-se, então, vítimas da situação.
Dentro de sua auto-referência infantil, concluem que não são boas o bastante para serem admiradas e queridas e que merecem ser destratadas.
Crianças pequenas não sabem e nem percebem que estão sendo vítimas de bullying.
Para protegerem seu delicado psiquismo, os infantes não podem nem cogitar que de quem deveriam esperar aconchego e proteção recebam arbitrárias agressões. Isto seria disruptivo demais para o seu, ainda vulnerável, funcionamento psíquico.
Crianças não tem esse conceito internalizado, nem a consciência de que adultos ou coleguinhas podem "sem motivos" se tornar agressivos, expulsivos, rotuladores, inibidores, intimidadores.
Apenas vivenciam aquilo, se entristecem, deprimem, tomam a culpa para si e não sabem identificar que algo pode estar errado - não com elas, crianças - mas, com o comportamento da professora, dos coleguinhas, do pai, da mãe, etc.
Frequentemente, não sabem nem mesmo identificar ou nomear o que lhes esteja acontecendo de modo a contar isso para alguém.
Muitas outras vezes, nem tem para quem contar: alguém que lhes dê suporte, a quem possam recorrer, alguém a quem confiar seu sofriemento ou sua segurança.
São os casos de crianças abandonadas pelo pai e/ou pela mãe ou que não foram abandonadas literalmente, mas, vivem em estado do que chamamos de "abandono doméstico":pai e mãe estão alí, mas, não desempenham a função de contorno e proteção que lhes compete.
Com frequência - mas nem sempre - essa agressão que certas crianças vivenciam na escola ou na rua é tão somente uma reprodução daquilo que já experimentaram, encoberta ou abertamente, em casa...
Não temos como controlar o comportamento do mundo a não ser por força da lei e de medidas punitivas...para os casos em que se tem provas.
Mas, cabe a nós adultos, pais, mães e educadores tentarmos proteger nossas crias estando perto e ensinando-as a se defenderem a partir do desenvolvimento do que chamo de "imunidade social".
A "imunidade social" é a capacidade de identificar e se defender de possíveis agressores sociais, sejam eles, colegas, amigos/as, familiares, estranhos, etc.
O desenvolvimento da "imunidade social" implica, primeiramente, em as crianças fortalecendo sua autoestima e autoconfiança.
De nada adianta exigir bons tratamentos fora de casa e agredi-los em casa.
Mas, também não rotulá-los e não permitir que outros os/as rotulem.
E ainda, enfatizar suas qualidades e espelhar o que tem de bom -seus dons - ajudando-os a se protegerem dos ataques bulínicos pelo ensinamento de como terem respostas adequadas a esses ataques.
Pois, o que machuca é quando a agressão do outro entra e é internalizada como sendo verdade.
As crianças precisam aprender a reconstruir o significado de certas coisas nocivas que os adultos lhes dizem e esta transformação da situação ou do significado está calcada na positividade tanto de sua autoimagem quanto de sua autoestima.
É preciso ajudar os pequeninos/as a relativizarem a suposta verdade do que os outros lhes dizem, inserindo em sua mente os outros elementos que irão compor a construção do valor de cada ser.
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Este texto pode ser reproduzido desde que se faça referência à autora e à fonte.
Modo de citação sugerido:
Ferreira, Valéria Giglio - Blog AMAR- EDUCAÇÃO CONJUGAL E FAMILIAR
Esse resgate, em geral, ocorre com a ajuda de alguém que a vida providencia e que se ocupará de lhes espelhar seu cisne interno, suas capacitações e potencialidades, como tão bem retrata a estória "O Patinho Feio".
Em meu entendimento, "O Patinho Feio" é um personagen que exemplifica claramente a história das vítimas de bullying, mas, somente daquelas que conseguiram superá-lo atravessando a barreira das devastadoras feridas narcísicas que ele deixa.
No que diz respeito às crianças que aprendem esses modelos de comunicação agressiva e os reproduzem, diria que isso é assimilado primeiramente na relação com seus próprios familiares, mas, também com determinados tipos de professores/as que em nome da "boa educação" despejam sobre as crianças suas frustrações e violências contidas, projetando nos pequenos/as seus aspectos psicologicamente sombrios - como o fazem também muitos pais, mães, babás, etc.
Essas crianças apenas passam a utilizar socialmente as regras de convivência que aprenderam com os adultos que lhe são próximos, tomando isso como o certo e o normal entre os humanos. São meros reprodutores do que lhes ensinam.
E muitas, passam de agredidas a agressoras num ciclo que se auto-perpetua: de abusados/as a abusadores.
Precisamente nesse ponto vejo a necessidade urgente da reeducação de adultos, especialmente, no que diz respeito à PRÁTICA DA COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA sendo substituida pela COMUNICAÇÃO ASSERTIVA.
Bullying é o assédio verbal, físico, psicológico e emocional diante dos indefesos/as.
- Tudo em nome da "boa educação", da normatização social, da supressão das diferenças humanas, da exclusão do diferente para menos ou para mais.
E embaixo desse véu da "boa educação" está a loucura oculta, reprimida e mal-tratada de tantos adultos: pais, mães, professores, etc e suas crianças interiores.
Lembro-me de eu própria de ter sido vítima de bullying.
Até hoje, recordo-me claramente das cenas de agressão psicológica e moral em que a professora Gilda P. de F., de matemática, da escola de freiras... admirada por ser "linha dura, ela" jogava sua sombra e sua loucura sobre mim. Recordo-me da exposição a que me submetia e de sua cara de má.
Graças a ela e a mostruosidade do que ela fez comigo, fui, a partir dali, acometida por uma severa ansiedade de desempenho desembocada em uma Síndrome de Pânico que perdurou décadas.
Em minha estrutura emocional de criança, o que conclui com aquela experiência de bullying e de agressão encoberta pelo véu da pedagogia barata vinda da "professora-monstro" foi que "a despeito do que você esteja sentindo ou passando que possa te fragilizar para a produtividade escolar ou para o desempenho em público, há pessoas neste mundo que não tem piedade para com quem fracassa - mesmo que essa pessoa seja uma criança cheia de problemas pessoais e familiares e, portanto, diante delas, ou você faz sucesso ou será inevitavelmente um excluido, um segregado/a social", exatamente como havia acontecido comigo naquele difícil ano.
Lembrando ainda que em muitos casos, é deste tipo de situação que decorre o desenvolvimento da chamada "PERSONALIDADE TIPO A": aquela em que os indivíduos ficam mais expostos à cardiopatias em virtude de terem sido "informados" por alguma situação disfuncional, de que só seriam amados/as se fizessem sucesso, tendo muito dinheiro e fama; então, para serem amados/as e não serem abandonados nem terem seu "coração partido" pelo rompimento com o ser querido, jogam tudo no desempenho de alta performance, o que costuma, por conseguinte, expor demasiadamente a saúde de seu coração... Aí então, só Jesus Cristo para proteger e mudar o rumo da vida!
Mas, voltando à prof. Gilda, o curioso é que em minha ingenuidade de criança, fiquei espantada quando ela apareceu grávida. É como se na inocência da meninice eu não conseguisse entender como uma pessoa de atitudes tão perversas, tão inimaginavelmente carinhosa com quem quer que fosse pudesse ter conseguido algo tão sublime como conceber e gerar uma criança! Lembro-me de ter ficado espantada quando a vi barriguda. Eu ainda não sabia que concepção não depende de bondade!
Assim, a revelação dos mistérios da matemática só fui aprender no ano seguinte com uma mestra, doce, meiga, vocacionada para o ofício de ensinar - Dona Mirta. Mas, como ser anti-pedagógica e o que jamais fazer como professora ficou muito claro naquela experiência com a G.
Não citarei o seu sobrenome da professora-monstro em respeito a ela - o respeito que ela não teve por mim.
Cada um com a sua natureza...
Deste modo, incluiria entre as vítimas de bullying, crianças com uma maior sensibilidade interpessoal, de bom coração, treinadas para respeitar o próximo, e que, por muitos motivos pessoais e de criação, não desenvolveram "imunidade social" para lidar com pessoas competitivas e agressivas, quanto mais se estiverem encarnando figuras de autoridade.
Diante delas, não sabem o que fazer, ficando paralizadas e tornando-se, então, vítimas da situação.
Dentro de sua auto-referência infantil, concluem que não são boas o bastante para serem admiradas e queridas e que merecem ser destratadas.
Crianças pequenas não sabem e nem percebem que estão sendo vítimas de bullying.
Para protegerem seu delicado psiquismo, os infantes não podem nem cogitar que de quem deveriam esperar aconchego e proteção recebam arbitrárias agressões. Isto seria disruptivo demais para o seu, ainda vulnerável, funcionamento psíquico.
Crianças não tem esse conceito internalizado, nem a consciência de que adultos ou coleguinhas podem "sem motivos" se tornar agressivos, expulsivos, rotuladores, inibidores, intimidadores.
Apenas vivenciam aquilo, se entristecem, deprimem, tomam a culpa para si e não sabem identificar que algo pode estar errado - não com elas, crianças - mas, com o comportamento da professora, dos coleguinhas, do pai, da mãe, etc.
Frequentemente, não sabem nem mesmo identificar ou nomear o que lhes esteja acontecendo de modo a contar isso para alguém.
Muitas outras vezes, nem tem para quem contar: alguém que lhes dê suporte, a quem possam recorrer, alguém a quem confiar seu sofriemento ou sua segurança.
São os casos de crianças abandonadas pelo pai e/ou pela mãe ou que não foram abandonadas literalmente, mas, vivem em estado do que chamamos de "abandono doméstico":pai e mãe estão alí, mas, não desempenham a função de contorno e proteção que lhes compete.
Com frequência - mas nem sempre - essa agressão que certas crianças vivenciam na escola ou na rua é tão somente uma reprodução daquilo que já experimentaram, encoberta ou abertamente, em casa...
Não temos como controlar o comportamento do mundo a não ser por força da lei e de medidas punitivas...para os casos em que se tem provas.
Mas, cabe a nós adultos, pais, mães e educadores tentarmos proteger nossas crias estando perto e ensinando-as a se defenderem a partir do desenvolvimento do que chamo de "imunidade social".
A "imunidade social" é a capacidade de identificar e se defender de possíveis agressores sociais, sejam eles, colegas, amigos/as, familiares, estranhos, etc.
O desenvolvimento da "imunidade social" implica, primeiramente, em as crianças fortalecendo sua autoestima e autoconfiança.
De nada adianta exigir bons tratamentos fora de casa e agredi-los em casa.
Mas, também não rotulá-los e não permitir que outros os/as rotulem.
E ainda, enfatizar suas qualidades e espelhar o que tem de bom -seus dons - ajudando-os a se protegerem dos ataques bulínicos pelo ensinamento de como terem respostas adequadas a esses ataques.
Pois, o que machuca é quando a agressão do outro entra e é internalizada como sendo verdade.
As crianças precisam aprender a reconstruir o significado de certas coisas nocivas que os adultos lhes dizem e esta transformação da situação ou do significado está calcada na positividade tanto de sua autoimagem quanto de sua autoestima.
É preciso ajudar os pequeninos/as a relativizarem a suposta verdade do que os outros lhes dizem, inserindo em sua mente os outros elementos que irão compor a construção do valor de cada ser.
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Lei nº 9.610/98 - Lei de Direitos Autorais
Este texto pode ser reproduzido desde que se faça referência à autora e à fonte.
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