Celebre e agradeça a vida como grande bênção...

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Deus ilumine o Brasil e o mundo, em nome de Jesus Cristo! Amém!

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Parabéns, Srs. juizes...Continuem assim. Cuspam bastante na cara do povo...Ignorem bastante o sofrimento do povo saqueado e, depois, acertem as suas contas com o Universo: vocês e seus\suas comparsas em roubar a população. Mas, não se enganem: o Universo, a seu tempo, fará a justiça prevalecer...

quarta-feira, 28 de março de 2012

A DITADURA DO TUDO-PODE

Por Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga


Esta é a nova ditadura: A DITADURA DO TUDO PODE! Quem pensar diferente será discriminado!

O slogan " É PROIBIDO PROIBIR" deu nisso?

- Claro, todo excesso tem seu preço.

Protestar, não concordar, reivindicar, acho justo e tudo bem, mas, o que aconteceu na invasão da USP  mostra claramente que esta é uma GERAÇÃO QUE NÃO CONHECE LIMITES.

Acham que podem tudo: se em casa pai e mãe não lhes ensinam nada sobre isto irão buscar a fronteira entre o que pode e o que não pode nas autoridades constituidas.

A verdade é que, em parte...em grande parte, a responsabilidade por esta situação - sem que nem sempre tenhamos consciência disto - é nossa, de pais e mães.

A responsabilidade é nossa, pois, enquanto reprodutores das regras necessárias à existência de vida civilizada talvez estejamos falhando na tarefa de tirarmos nossos filhos/as da fantasia infantil de que tudo podem...

Falhamos em tirá-los da onipotência infantil de que tudo-pode, fator essencial para a sua entrada na vida adulta, com seus ônus e seus bônus.

O problema se acentua quando pai e mãe também ainda estão dentro dessa mesma ilusão onipotente de tudo poderem, e então, não sabem como lidar com isto porque também não aprenderam muito sobre existênica e colocação de fronteiras.

Não sabem exatamente onde colocar seus próprios limites e tampouco o que ensinar às suas crias sobre esta parte da lição.

E assim, no extremo desta situação, quando surge o "teste de realidade" e as regras da vida se impõem, este costuma vir acompanhado, inevitavelmente, do confronto com a Lei.

Influenciados pelas psicologização das relações  familiares, pelas novas pedagogias dos anos 60 e pós 60, pelos movimentos da contra-cultura, por todas as revoluções de costumes surgidos desde então, muitos pais e mães acreditaram que dar liberdade aos filhos/as para que possam crescer e se desenvolver seja permitir tudo. Isto é um grave equívoco.

O que esta liberdade sem freios e desacompanhada da responsabilidade está provocando é  tão somente uma geração de crianças, adolescentes e adultos perdidos e ansiosos.

Já se fala eme quem fale em uma epidemia mundial de ansiedade.

Mutas crias dessas gerações papo-cabeça estão tomadas por uma espantosa sensação generalizada de insegurança e medo, a qual  as drogas tem se mostrado acessíveis para aplacar, com sua oferta de pseudo-felicidade, pseudo-paz, pseudo-segurança. Aí está o ponto para esse tipo de comércio que se aproveita do desatino social para ganhar seu lucro de cada dia, em cima de cada família disfuncional.

O uso quase que generalizado de drogas no mundo de hoje é também sintoma disto: da falta de limites e do oferecimento do contorno que filhos e filhas necessitam para se sentirem tranquilos.

As drogas se oferecem como o colinho aconchegante que, muitas vezes, ficou longe de ser experimentado pelas crianças de hoje, e então, a tentação de obter o que faltou através dessa armadilha disfarçada de aconchego, é muito grande.

Penso que não adianta combater as drogas sem combater o que está embaixo delas, dentro das dinâmicas familiares que a elas se expõem como fonte de aplacamento do sofrimento doméstico e existencial não-elaborado. 

- Filhos/as que não tem limites não se sentem amados/as!

- Por que?

Porque crianças e adolescentes sabem precisam de limites para não se machucarem e nem machucarem os outros, mas, se ninguém se oferece para ensiná-los sobre isto concluem que ninguém se importa com o fato de se ferirem ou se prejudicarem, e portanto, que ninguém os/as ama.

Se ninguém os ama, então, começam a baderna para se certificarem de que já que ninguém manda e ninguém se importa verdadeiramente com eles, então, eles mesmos tomarão as rédeas e farão isto do seu próprio jeito.

Foi o que ocorreu na invasão da USP, também conhecida por "a revolução dos mimados".

Espero, pelo bem de todos, inclusive desses próprios alunos-vândalos, que a partir de agora, todos nós tenhamos aprendido e sejamos capazes de fazer a "lição de casa".


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quarta-feira, 7 de março de 2012

CARTA ÀS MULHERES


 Por Valéria Giglio Ferreira

Acredito que o movimento feminista alavancou a história, tirou os seres humanos do caquético patriarcado, mostrou que podemos ser fortes, criativas, boas profissionais, que sabemos vencer no mercado de trabalho, até então, reduto masculino. Já provamos, enquanto gênero, que somos capazes.

    Mas, o que ora  questiono é se já não é tempo de resgatarmos a sabedoria feminina entendendo que agirmos como os homens agiriam nem sempre funciona para nós. Principalmente ao lidarmos com eles.

    Lembro-me de que a maioria das mães, tias e avós do passado aprendiam e ensinavam algo que elas chamavam de "sabedoria de lidar com o marido". Era um repertório de dicas e práticas que compunham uma espécie de "arte milenar feminina". Esta "arte" era  dirigida às jovens e esposas e havia sido acumulada ao longo dos séculos através do exercício em lidar com a relação a dois.

    Entretanto, depois do movimento feminista toda esta sapiência começou a ser considerada como sendo um conhecimento menor, "coisa de mulherzinha".

    Penso que ao buscarem o seu reconhecimento no mundo masculino, negando sua natureza, mais uma vez, as mulheres se desprezaram. Desprezaram seu modo de agir e de lidar com o mundo e com o sexo oposto.

    No pós-feminismo, muito se questionou e muitas desta  questões são, a meu ver, justas e pertinentes. Em algumas saimos vencedoras, noutras, ainda estamos em nossa luta por relações simétricas.

    Na área das parcerias amorosas as indagações davam conta de colocar em cheque o domínio masculino.  A questão clássica era "...por que só os homens podem tomar a iniciativa, por que, por exemplo, as mulheres não podem tirar um homem para dançar? "

    Neste contexto, gostaria de ponderar que a questão não é a de poder ou não tirá-los para dançar, poder tirá-los para dançar as mulheres podem, mas, isto não é eficaz, não funciona,  nem é necessário.

    Se tomarmos como princípio que as espécies tem sua forma de cortejar e que na dança do casal "a mulher induz e o homem conduz", então, ir até o parceiro e tirá-lo para dançar afastaria a mulher de seu movimento natural aumentando as chances de ouvir um não por parte dele. Ela poderia tentar induzí-lo até ela, mas, o problema é que ao tentarem ficar iguais aos homens desprezando a sua natureza feminina as mulheres se tornaram péssimas indutoras.

    É bem verdade que muitas mães e avós do tempo antigo ensinavam submissão, auto-depreciação e outras coisas que acabavam com a auto-estima feminina, mas, também ensinavam coisas boas para a vida prática conjugal.

    O conceito psicológico sistêmico de não repetir inclui pegar o que havia de bom no modelo antigo e mudar o que havia de ruim,  criando um terceiro modelo.

    Creio que de bom, entre outras coisas, algumas de nossas mães, tias e vovós tentavam ensinar às suas descendentes como induzir o parceiro na dança do casal. Ensinavam coisas do tipo: escolher a melhor hora para falar, o melhor jeito de falar, etc.

    Contudo, ao ouvirem isto algumas  mulheres dizem: "...mas, por que nós é que temos que fazer todo este esforço, dar tantas voltas; por que não, eles fazerem isto?...Credo que cansativo!.. Ah, é melhor sermos diretas e pronto!"

    Diante desta fala sempre me lembro de uma situação relatada por Amyr Klink em um de seus livros. Conta ele que saiu da Namíbia, na costa da África e pretendia vir para o Brasil, na altura da Bahia. Olhando para o mapa podemos perceber que uma linha reta poderia trazê-lo aqui. No entanto, o "navegador solitário" escolheu outro caminho: subiu com sua embarcação até a parte superior da África e só depois desceu para a Bahia. Seu percurso aumentou em vários quilometros. Mas, por quê?

    Porque ao vir em linha reta daquele ponto da África até o Brasil ele navegaria contra as correntes marítimas: de cada x braçadas que desse para frente, o mar o faria voltar algumas tantas;  subindo até o alto do continente  africano para depois descer para cá, ele remaria a favor das correntes. Deste modo, teria na natureza do mar um aliado: para cada x braçadas que desse, a correnteza do mar daria outras tantas e o lançaria para mais perto de seu objetivo.

   Quero dizer que aquilo que  para muitas mulheres parece ser um "trabalhão enorme", na verdade, facilita o acesso ao parceiro e o alcance da  harmonização conjugal.

   Se a mulher tenta conduzir a relação, impor diretamente, confrontá-lo o tempo todo, falar como se fosse "o cara", a tendência do psiquismo masculino é a de entender que ele está diante de um opositor masculino, onde então, ele se arma e se defende. Mas, se como diziam as vovós, ela tenta "falar com jeito", ele tende a percebê-la como alguém que está buscando colaboração, portanto,  pode desarmar-se para encontrem juntos uma solução. Não me refiro aqui a ser boba, mas, a ser sábia: suave e firme. Lembrando a fala bíblica de que "a mulher sábia edifica sua casa, a tola a derruba com as mãos".

   É preciso respeitar e se aliar às forças naturais de cada ser.



   Homens em geral, são diretos, claros.

   Mulheres são - por sua própria anatomia - cheias de curvas, de sinuosidades, de mistérios. Dizemos que a energia feminina é como a água e não como a pedra.  A água que encontra a pedra a contorna por cima, pelos lados ou por baixo e segue em busca de seu objetivo. A pedra quando encontra outra pedra, se choca com ela e ficam ali estagnadas.

    Esta energia feminina de induzir é tão poderosa que até a sabedoria popular criou lendas que sirvam de alerta sobre os seus perigos.

    Uma desta lendas é a do Canto das Sereias. Esta lenda me parece a descrição exata do mal uso desta energia, onde, então, a Sereia canta para atrair os marinheiros desprevenidos e levá-los para dentro de suas traiçoeiras águas.

    Energias em si, não são boas nem más. Como elas são  usadas é que define o sinal.

    Penso que nem homens e nem mulheres podem deixar de estar cientes da energia feminina e seu poder de construção ou de destruição - como no caso da lenda em que as astutas "sereias" as usam para ludibriar os homens, tirá-los de seu caminho.

    Porém, esta mesma energia feminina  também pode ser usada para o bem, para favorecer o entendimento, a  união e a coesão da mulher com o parceiro e com a família.

    Mas, ao insistirem em olhar tudo o que é feminino como algo menor, muitas mulheres - sem perceberem - menosprezam a força desta energia, e portanto,  perpetuam  valores do machismo.

   Ao se envergonharem de serem boas donas-de-casa, de gostarem de cuidar do lar, do marido e dos filhos/as - como se isto fosse algo menos importante do que o seu trabalho - elas permanecem sendo machistas. Adotam para si uma visão machista de mundo, valorizando tudo o que é masculino e desvalorizando o mundo feminino. Afastam-se de si-mesmas e daquilo que também as faz  felizes e completas.

    Acredito que o movimento feminista tenha trazido benefícios valiosos e irrevogáveis. Entretanto, talvez já seja hora - não, de voltarmos em massa para casa,  pois, segundo alguns economistas isto quebraria o mercado - mas, de resgatarmos o que ficou para trás: a alegria, a sabedoria e o prazer de sermos e agirmos como mulheres!

    - Mulheres, apropriem-se de sua força - como mulheres.

   - É hora de despertar!

                                      Abraço carinhoso,
                                                                      Valéria



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sábado, 3 de março de 2012

O PROCESSO DO PERDÃO...


Por Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga

Esta é uma questão interessante...e importante.

 A grande maioria das religiões e filosofias abordam este tema.

Observo que o que se diz sobre o perdão, em geral, vem assim:

"- É preciso perdoar!".
"- O perdão é curativo!".
"- Perdoar é divino!".

Mas, a reação da maioria das pessoas a essas falas costuma ser de conflito diante disto, pois, querem perdoar e não conseguem fazê-lo!

Então, além da raiva e do ressentimento que motivaram o conflito, têm agora uma outra dificuldade que é a de não conseguirem perdoar o/a opositor...e isto, num efeito dominó, aumenta a área dolorida do litígio.

Além do conflito humano, muitos passam a ter um conflito com Deus, sentindo-se maus por "não perdoarem o inimigo".

Em meu entendimento, observo que perdoar não é uma simples mágica interna que se faz e que no instante seguinte sobrevém o sentimento balsâmico do perdão, da libertação.
Perdoar é um processo.

Considerando-se a premissa de que a vida é econômica e não dá experiências desnecessárias, penso que perdoar implica em entender a que veio a experiência com aquela pessoa e de que maneira a vida usou aquela pessoa como mestre para nos ensinar algo imprescindível ao nosso crescimento, à nossa evolução.

Lembro-me do ditado que diz que "muitas vezes, as pessoas que mais nos azucrinam, são nossos melhores mestres".

Inúmeras vezes, sentimos que a intenção da pessoa foi boa; porém, em outras, sentimos que houve má intenção, ruindade, maldade e o objetivo de ferir e de trapacear.

Vale citar, a título de facilitar a digestão de certas injustiças e agressões, que "cada ser é limitado pelo seu nível de consciência"  e que "o plantio é livre, mas, a colheita é certa".

De todo modo, se nos lembrarmos que "tudo concorre para o bem daqueles que amam Deus", poderemos perceber que independentemente da intenção da pessoa, o resultado é que podemos crescer com ela.

Porém, para percebermos que podemos crescer com o que nos fizeram, precisamos nos dar a chance de reconstruirmos o significado dos acontecimentos.

Citando Sartre: " não importa o que fizeram conosco, mas o que fazemos com o que fizeram conosco".

E, se nos colocarmos atentos, percebemos que com o ocorrido, ainda que duramente, crescemos em algo fundamental para nós.

Assim, acredito que o processo de perdoar implica em assimilar a experiência passada, obtendo dela o entendimento do sentido de vida e crescimento pessoal nela contidos.
Somente quando entendemos onde crescemos com aquela pessoa e com aquela vivência, conseguimos perdoar.

É como o processo de digestão alimentar:

 - Engolimos a situação dada pela vida.

 - Digerimos o alimento que ela nos fornece.

 - Com maior ou menor dificuldade, assimilamos seus nutrientes.

 - Excretamos o que dele não nos serve mais.

 - Se o alimento é bom, imediatamente nos torna mais robustos.

   Se é tóxico para nós, precisamos reagir e nos instrumentalizar para não perecermos.
   Se o superamos, tornamo-nos mais fortes e vigorosos a partir dali.

Algumas vezes, aquilo que não destrói, cria anticorpos, fortalece.
Eu chamo a este conjunto de passos "O Processo de Perdão", concluindo que o mesmo tem várias etapas:

1) Aceitar a experiência dada pela vida.

2) Aceitar a alegria e a dor nela contidas; ou seja, aceitar a experiência inteira.

3) Aceitar e canalizar construtivamente a raiva, a frustração e a tristeza pelo que desagradou e/ou machucou, na situação referida.

4) Buscar o que e onde, no contexto específico de nosso desenvolvimento como indivíduos, aquela experiência gerou crescimento.

Buscar entender o que exatamente foi aprendido.

5) Aceitar que aquela experiência foi/é útil e necessária, apesar da dor e do desconforto.

6) Perceber que nenhuma outra pessoa ou contexto teriam a força de gerar este crescimento específico.

7) Acolher a pessoa que nos magoou, que abusou de nós, nos agrediu, frustrou, decepcionou, etc como um personagem fundamental de nossa história e de nossa evolução.

8) Agradecer-lhe pelo que de bom ele/ela nos proporcionou em termos de crescimento, pois, sempre existe um crescimento, seja com as experiências tristes e sofridas, seja nas prazerosas e alegres.

No limite, vale entendermos que existem pessoas más, "escravas da maldade", dominadas pela inveja e pelas rivalidades e que não podemos negligenciar este perigo, que precisamos saber nos proteger delas.

9) Perdoar.

10) Libertar-se.


 Desapegar-se do ocorrido, soltando o que não faz mais sentido e permitindo que se vá, abrindo espaço para a renovação de seu próprio ser.  

Assim, creio que só conseguimos perdoar quando assimilamos o que de bom a pessoa nos trouxe, numa atitude de consciente e, às vezes, resignado agradecimento.

Enquanto estivermos presos ao que foi ruim, numa cegueira obstinada e irada, sentindo-nos vítimas alheias aos acontecimentos, o portão do perdão tende a permanecer trancado.

Mas, quando transcendemos a dor e buscamos entender a que veio aquela vivência, em  que aquela oportunidade dada pela vida nos toca, isto confere crédito e sentido à experiência vivida, e então, abre-se a porta do perdão.

Creio que somente a partir do entendimento do que ficou de bom, daquilo que foi agregado para nós é que conseguimos perdoar nossos opositores/as, dando à experiência com eles/elas uma conotação positiva.

Creio que somente a partir deste entendimento é que nos tornamos capazes de transformar nossos algozes em mestres. Mestres enviados pela vida para fomentar o nosso bem e gerar novas tomadas de consciência, tornando-nos pessoas melhores, mais cheias de luz.

Assim, creio que para perdoar é preciso, primeiro, acolher a experiência com nossos/as inimigos/as e encontrar a luz que ela nos traz.

Penso que todos/as são nossos mestres, mas, parece que as pessoas que nos são mais difíceis são justamente aquelas com quem aprendemos algo de essencial ao nosso crescimento, à nossa evolução. 
Se observarmos, vamos ver que essas pessoas tem características muito peculiares e que somente com uma pessoa assim poderíamos aprender a lidar com aquele aspecto da vida. A vida usa essas pessoas para nos ajudar a crescer. 

Vamos lidando com a situação e quando nos tornamos hábeis, entendemos o motivo de tal relacionamento - a que veio, com que propósito a vida colocou aquela pessoa em nosso caminho - e a partir daí nos libertamos da situação e já libertos conseguimos perdoar. 

Crescemos e isto é tudo, porque ressignifica a presença da pessoa em nossa história, que então, seguirá de uma nova maneira.


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O PLANETA FUMANTE...


" Somente quando a última árvore for cortada, pescado o último peixe, poluido o último rio, é que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro. " (Ditado Indígena)

   Todos nós já ouvimos histórias de pessoas que fumavam, fumavam, fumavam... Um dia o médico lhes dá o ultimato: parar de fumar ou expor-se a auto-condenação.

   O "companheiro-cigarro" mostra sua face de inimigo.

   É um momento limite em que aquilo que parecia funcionar, que rebaixava a ansiedade e solucionava problemas - em geral relacionais - perde sua operacionalidade e passa a ameaçar o organismo que o utilizava.

   Este é um mecanismo frequente. Quando algo menor chega ao seu máximo e precisa ser trocado por algo maior.  Vemos este processo em vários sistemas de preservação da vida.

   Um exemplo é o das arvorezinhas das calçadas. Quando são pequeninas, a prefeitura coloca cercas em torno delas para que nenhum "animal" as danifique. Quando ficam maiorzinhas seu tronco atinge a cerca protetora e os funcionários da prefeitura vão lá e retiram a tal proteção para que as árvores sigam crescendo sem impedimentos.

   Portanto, algo que foi bom - a cerca - precisou ser retirado em favor de algo maior que preservasse a vida da planta.

   Outro exemplo desta troca de algo "menor" em nome de algo "maior" para poder preservar a vida é o bebê  na barriga da mãe: deu os nove meses, o útero que nutriu, aqueceu e protegeu precisa ser deixado em favor de um bem maior,o ar livre, a continuidade do crescimento.
 
    Mais um exemplo deste modus operandi : crianças pequenas são muito hábeis em se adaptar ao seu ambiente familiar e a "descobrir" o que se espera delas. Esta adaptação às expectativas do meio familiar se tornam padrões de comportamento que costumam ser levados inconscientemente para a vida adulta.

   Chega uma hora em que alguns destes padrões de comportamento vindos da meninice se mostram ineficazes para as tarefas da vida madura. Deste modo, dizemos que o sujeito precisa rever suas defesas e suas adaptações.

   Alguns daqueles comportamentos que serviram de recursos de sobrevivência no ambiente da infância passam a ser limitantes na fase adulta chegando a ameaçar a continuidade do livre desenvolvimento da pessoa.

    Então, vem a necessidade de substituir algo que foi útil e fez sentido no passado - comportamentos infantis - em favor de algo maior - um novo repertório de respostas comportamentais para fazer frente aos desafios do presente e do futuro.

    Se de fato conseguir trocar algo menos importante em favor de algo mais importante for um imperativo da evolução dos organismos vivos, que tal  incluirmos aí os desafios evolutivos do próprio planeta Terra?

    Imaginado que a Terra fosse uma paciente consultando um "doutor", certamente ele diria: "- Dona Terra, a senhora está fumando demais!!! Soltando muitas baforadas poluentes com as chaminés de suas fábricas e indústrias, com os escapamentos de seus carros, com os gases de seu rebanho, etc..."

    Poderíamos então, até dizer que, em algum momento, a  Dona Terra se tornou um "Planeta Fumante".      
    Se no passado, o  progresso literalmente "astronômico" da Terra foi necessário  para garantir a sobrevivência da espécie humana, atualmente, importantes cientistas, líderes religiosos e indígenas, sábios de todos os cantos estão dizendo que continuar assim ameaça a preservação do globo como um todo.

    Será que também no nível planetário e enquanto humanidade estaríamos diante de uma situação do tipo: trocar algo menor em favor de algo maior para preservar a existência?

   Federico Navarro, terapeuta somatopsicodinâmico diz que: "...Todos nós temos um Caminho da Felicidade. Os sintomas são um aviso vindo do organismo de que a pessoa se desviou desse caminho e  precisa retornar a ele..."

     Pensando que desequilíbrio ecológico, buracos na camada de ozônio, extinção indiscriminada de florestas e espécies, efeito estufa , aquecimento do globo (febre alta do planeta?) e finalmente, violência, desamor e desprezo pelas relações interpessoais em geral, possam ser sintomas de enfermidade terráquea, será que podemos supor  que enquanto comunidade planetária saimos do nosso Caminho da Felicidade e precisamos voltar para ele? Seriam estes acontecimentos sinais, sintomas e alertas de que nos desviamos do rumo?

    Se respondermos que sim, como retornar?

    Ao verificarem que toda expansão é seguida pela contração e assim sucessivamente, alguns historiadores vem sugerindo que a humanidade passou por um grande período de "expansão para fora" e que é hora de fazer o percurso contrário, de "expandir para dentro", de interiorizar-se.

    Em "A alma da casa", Jane Alexander observa que vivemos uma cultura tomada por Hermes, o deus grego da comunicação, da velocidade e em última instância, do frenezi maníaco por movimento. Obstante, para ela, devagarzinho,  vem surgindo a necessidade de nos conectarmos com Héstia, a deusa da lareira, do fogo, da luz interior. Na mitologia grega, Hermes olha para fora, Héstia olha para dentro e juntas estas tendências se auto-equilibram gerando harmonia em nossas necessidades de extrospecção e de introspecção.

    Entretanto, para atingirmos este equilíbrio em nossas necessidades externas e internas precisamos ter a coragem de dizer basta.


    Basta às nossas fantasias de que consumir coisas materiais substitui amor e relacionamentos afetivos; basta de não vermos que coisas do mundo exterior só substituem coisas do mundo interior de maneira ilusória e efêmera, numa roda que gira sem fim. Basta de procurar a felicidade fora de cada um.
 
     Precisamos buscar o caminho de dentro lembrando-nos das célebres palavras de  Jesus Cristo  de que "...O Reino de Deus está dentro de vós...".

     Se a Terra se tornou um "Planeta Fumante" cada um de nós colabora com as suas baforadas a cada vez que consome o que não precisa e que descarta coisas úteis ou recicláveis.

     O alerta vem sendo dado. O Planeta Fumante já está em sofrimento.
 
     Seremos capazes de trocar algo menor em favor de algo maior?

     De abrirmos mão de coisas que não precisamos em favor da sobrevivência de nossa espécie?

     Seremos capazes de corrigir a rota da felicidade e permanecermos em nosso planeta - morada?

     Seremos capazes de devolver à nossa Gaia o equilíbrio que nosso desenvolvimento bio-psico-sócio-econômico tirou dela?

     De, individualmente ou em grupos, mudarmos o curso da História?

    


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A "SÍNDROME DE MULHER MARAVILHA"

                                             

A "SÍNDROME DE MULHER MARAVILHA"

Por Valéria Giglio Ferreira
Psicóloga

Penso que esta seja uma geração de mulheres que, quando meninas, assistiram demasiadamente ao seriado da super-heroína "Mulher Maravilha" e que isto tenha nos influenciado de maneira intensa e deletéria, criando e estimulando a busca de um modelo de mulher inatingível para as simples e terrenas humanas.

Lembro-me de que ela era um ícone de beleza e perfeição: pele clara bem tratada, olhos lindos, cinturinha fina, boca bem desenhada, quadril de violão.

Boa profissional, inteligente, sensível, sempre impecavelmente vestida, rápida nas respostas e com uma prontidão incrível para solucionar com justiça e graça problemas nas mais diversas áreas da vida.

Creio que este modelo de "mulher perfeita" seja, atualmente, aquilo que a maioria de nós busca ser.

Até o dia em que sobrecarregadas de frustrações e cansaço - quando não, enfrentando sintomas de todos os tipos: físicos e psicológicos - nos vemos obrigadas a rever a viabilidade deste projeto prá lá de desumano.

É estonteante o número de pessoas do sexo feminino que caem nessa armadilha invisível que chamamos de "Síndrome de Mulher Maravilha".

Ao ter seu pezinho preso nesta rede de metas e expectativas impossíveis, a mulher vai se esquecendo que na vida real efeitos especiais não ocorrem e que atingir uma performance como a da personagem exigiria de nós os poderes extra e sobre humanos que Diane Prince - a "Super Mulher" - tem e que nós não temos.

Então, a cilada que nos pega é: não temos os superpoderes que ela tem - força física sobre-humana, braceletes anti rajadas, tiara de proteção, laço mágico indestrutível, etc - e temos tarefas domésticas, conjugais e familiares que ela não tem.

A conta não fica justa. É uma equação inviável.

No teste de realidade da aplicação do modelo-de-mulher-maravilha-para-mulheres-humanas fica uma diferença que jamais seremos capazes de cobrir. Uma diferença perigosa que vai sugando-nos as energias, tirando nossa força vital e expondo a saúde e até a vida de quem se mete a tornar real este modelo.

Lembrando-nos ainda que trata-se de um modelo e de uma síndrome que nasce do fascínio norte-americano por tudo o que é artificial e tolinho e da vulnerabilidade mundial em copiá-los nestes valores doentios.

Resta- nos entender por que demos gancho, por que entramos neste caminho doentio, exaustivo, machucante?

Será que foi porque em algum momento achamos que só poderíamos ser amadas se fôssemos SUPER: super mães, super esposas, super profissionais, super poderosas, super atraentes, super interessantes, super sedutoras...?

Será que foi para darmos encaixe e estarmos a altura dos - também ilusórios - super-homens? Para criarmos o super casal com suas super crianças, educando seus super filhos/as e fazendo parte da nova geração de "supers"?

Talvez, ambos - homens e mulheres - tenhamos caído na mesma armadilha que nos dizia que sermos simplesmente humanos não nos bastava.

Brincamos de ser Deus e a vida tem nos mostrado quem é quem: que só Deus é Deus e só Ele tudo pode.

Que super-heróis não existem...

Creio que movidos por ideologias de massa, ideologias consumistas que o tempo todo apregoam que o prazer está na novidade e no fantástico, tenhamos chegado a acreditar que só poderíamos ser amados, admirados, não abandonados e não rejeitados se fôssemos muito além daquilo que com equilíbrio conseguimos ser.

Que, do contrário, não seríamos bons/boas o bastante para obtermos o prêmio do bem-querer.

Esta é a armadilha: queremos ser amados/as e fizeram-nos acreditar que isto só nos seria dado se fôssemos "super" em alguma coisa ou de preferência...em tudo!

Deste modo, penso que embarcamos na fantasia coletiva de sermos super-heróis e super-heroínas e tentamos criar coletivamente um "Super Eu Artificial": os Super Indivíduos, um duplo, um "Outro Eu" que nos viabilizasse alguma suposta garantia de amor, aquietando nosso coração e dando-nos esperança de acolhimento, respeito e felicidade.

Ah, e este Super Eu não pode ter tristezas nem fragilidades que são coisas tão humanas...pois, neste mundo da felicidade artificial ter fragilidades ficou restrito à categoria dos que não são super!

Apregoam-nos que devemos querer o sucesso, o brilho, o palco como se este fosse o único bilhete para o mundo dos sujeitos felizes e realizados. Sim, mas, muitas vezes numa felicidade de cristal, que não suportaria as pressões da vida real.

Iludiram-nos com tudo isto...

E sedentos\as de amor renunciamos à nossa humanidade e passamos a buscar o lugar do herói e da heroína.

Dai, a enorme quantidade de antidepressivos e ansiolíticos ingeridos por aqueles/as que não conseguem por si mesmos alcançar estas des-naturadas metas e a enorme quantidade de todas as outras drogas utilizadas atualmente para dar sustentação a este falso Eu, a este Super Eu artificial sobrevivente às custas de miríades de ilusões plantadas todos os dias nas mídias.

Embora tenha custado a vida de muita gente, o lado bom desta fase maníaca coletiva é que pouco a pouco fomos testando nossos limites e tomando consciência que não existem heróis vivos.

Sair desta destrutiva ciranda movida pela baixa consciência do próprio valor, pela baixa consciência de que existir já é o grande acontecimento, o grande milagre, requer que a coragem de colocar em risco e em teste de realidade as relações e vínculos baseados em Super Expectativas.

Requer abrir mão de relações interpessoais baseadas em expectativas desumanas e retornar ao que é simples e cabível no dia a dia de cada um.

Requer coragem e o consciencioso trabalho de reconstrução da autoconfiança, da autoimagem e da confiança no fluxo da vida que em algum momento foram danificados e feridos.

Assim sendo, creio que cabe-nos tão somente a humilde renúncia às nossas ilusões como Super Seres e uma volta à nossa condição terrena de humanos/as, com dificuldades e potencialidades.

Jamais super-heróis ou super- heroínas seja lá do que for: do lar, da família da profissão ou da sociedade.

Lembrando-nos de que "humildade" é um preceito bíblico e que a palavra vem do latim húmus, de onde também derivam humilde, humanidade, homem (Homo sapiens) e que faz referência à eterna ligação e submissão do ser humano à terra, à natureza e suas regras inexoráveis.

Assim, depois de tanto sofrimento e desencanto tentando ser Super Humanos, vamos aprendendo que somente o retorno ao que é humilde, natural, terreno, possível e equilibrado nos permitirá o reencontro com o que é curativo, fértil, criativo, bem como, com o resgate da própria força da vida e da verdadeira alegria de viver.

E esta renúncia é também um ato de fé.


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Ferreira, Valéria Giglio - Blog AMAR- EDUCAÇÃO CONJUGAL E FAMILIAR     

ALGUMAS LINHAS SOBRE A AUTOESTIMA

 Por Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga

A construção da autoestima remonta ao início das relações da criança com sua mãe, seu pai e também com sua família de origem.

Uma criança que nasce é, por assim dizer, um/a desconhecidinho/a que se insere no meio do grupo familiar.

Como o ser humano tem dificuldades de lidar com o desconhecido, assim que a criança mostra sua carinha, os familiares começam um processo de atribuir ao pecurrucho/a características familiares - qualidades ou defeitos.

O objetivo - via de regra inconsciente - desta atitude é o de tornar o  desconhecidinho/a que chegou, um pouco mais conhecido da família, ou por outra, de reconhecê-lo como alguém pertencente ao grupo e não como um estranho alí colocado.

Este processo se dá da seguinte maneira: os familiares olham para o pimpolho/a recém-nascido/a e começam a dizer, "- olha este bebê é a cara da vovó fulana", " - ah!, mas, o nariz é de cicrano", e assim, vão atribuindo características físicas à criança.

Das características físicas, os parentes passam às psicológicas: "...é alegre como a mãe, calminha como o pai, chorão como o tio", etc.

Mas, o fato é que estas são apenas associações que os parentes fazem entre a criança e este ou aquele membro do grupo e não quer dizer que a criança seja, de fato, aquilo que falam dela. O termo técnico para este mecanismo é projeção.

Isto me faz lembrar da cena em que uma mãe e sua criança de colo vinham da feira e a mãe disse à colega:
"- Ah! esse menino vai ser muito pão-duro!"
Ao que a colega respondeu:
"- Por que você acha isto?"
E a mãe falou:
"- Ah! Porque toda vez que eu ia pagar ele chorava!".

Isto exemplifica o mecanismo de projeção atuando na relação mãe-bebê. A mãe coloca na criança, material psíquico dela mãe. E atribui a característica à criança !!! 

Cada um se dá o direito de colocar no indefeso infante a característica que quiser, principalmente, pelo fato de que a criança não tem recursos nem discernimento para recusar essas projeções, como poderia fazer um adulto, respondendo: "...não concordo com a sua maneira de me ver, eu não sinto que eu seja isto." E então, assunto encerrado!

Neste caso, assunto encerrado porque a projeção só funciona se a pessoa-alvo a acolher, isto é, se a pessoa a quem se dirigiu a projeção tomá-la para si. Se a pessoa recusá-la não há aderência à projeção, portanto, ela  não cola na pessoa.

Mas, o fato é que a criança, pelo óbvio, não pode fazer isto. Então, a criança acolhe a projeção dos adultos sobre ela e como ainda não possui um "ego adulto", ou seja, um grau razoável de auto-conhecimento, irá atuar a partir do que contam para ela que ela é.

Deste modo, as crianças, em geral, não só acolhem as projeções dos adultos sobre elas, como passam a agir a partir dessas informações que eles lhe trouxeram a respeito de quem são suas pessoinhas.

O problema está no fato que, incontáveis vezes, são projetadas nas crianças aquelas características que os adultos rejeitam em si próprios. Eles não são isto ou aquilo, mas....a criança é - e está dito!

Neste ponto, a rotulação está pronta para começar seus descaminhos.

Lembrando que os rótulos são sempre ruins; e são ruins porque restringem as possibilidades de raciocínios  e de respostas comportamentais: a pessoa rotulada se sente inconscientemente "obrigada" a atuar do modo como o seu rótulo preconiza.

Rótulos negativos e rótulos positivos são ambos ruins, pois, como dizia Dante, "o rótulo é uma prisão".

A pessoa que entrar num, certamente, terá dificuldades de sair dele.

É assim  com os rótulos que nos colocam  e também com os que, eventualmente, colocamos nos outros.

Neste sentido, tenho enfatizado aos pais e mães que não rotulem, nem permitam a rotulação de suas crias.

Entretanto, este processo de atribuir características projetivas aos bebês e às crianças é, em geral, inconsciente e faz parte de muitas das dinâmicas familiares. A questão é que eles precisam ser conscientizados e evitados.

Então, a partir do que contam para a criança que ela é, é que a criança vai, aos poucos, construindo sua auto-imagem: positiva ou negativa.

Este espelhar para o outro quem a pessoa acha que o outro é, é chamado por alguns profissionais de psicologia de "fazer o espelho positivo ou fazer o espelho negativo para o outro".

De modo geral, os pais e mães ainda não sabem bem ao certo como fazer este espelhamento e, muitas vezes, se atrapalham com a relação elogiar X criticar a criança.

Havendo muitas falas negativas, a auto-imagem da criança tende a se tornar negativa; havendo muitas falas positivas a auto-imagem tende a se tornar positiva.

Mas, algumas crianças conseguem re-significar as falas destrutivas dos adultos.

São raros os casos, mas, darei um exemplo:

Durante muitos anos, dei aulas para crianças. Numa das salas, elas tinham por volta de nove ou dez anos de idade; então, um dia, um menininho a quem chamavam de bagunceiro (esse era o rótulo que já estava sendo colado nele), sentado perto de minha mesa, tendo terminado rapidamente sua tarefa, voltou-se para mim e me disse:
"- Sabe, tia, todo mundo aqui na escola, e também lá em casa, diz que eu sou inquieto. Eu não sou inquieto, eu sou é um cara dinâmico!"

- Amei!!! 

Este é um caso raro de, ainda na infância, a pessoa conseguir re-significar o rótulo negativo, dando-lhe uma conotação positiva.

Em geral, ainda hoje, temos uma grande quantidade de pessoas que seguem a vida toda presas às rotulagens que-lhes colaram na testa num tempo tão remoto de suas vidas que o início desse processo se perdeu nos recônditos da sua memória.

Ficando destas rotulagens somente os sintomas e o sofrimento que elas provocam.

A maioria das pessoas só alcança a meta de rever os rótulos e o script de comportamento que os acompanha  e mantém, lá na vida adulta. Muitos, somente com intervenção psicoterapêutica.

Neste contexto, uma pergunta que gosto de fazer aos meus/minhas pacientes é: " - Você é assim, ou,  será que foi treinado/a para ser assim?"

Costumeiramente, algumas projeções procedem e outras, definitivamente, não.
 
Separar o joio do trigo, separar o que é meu do que é seu, é tarefa que começa na adolescência e segue para a maturidade, às vezes, por toda a existência.

Como já foi dito, na fase adulta, por já se conhecer um pouco, o sujeito ganha a possibilidade de questionar sua história: "...sempre me disseram que sou de tal jeito, mas, não me sinto tanto assim, então, acho que não é bem como me falaram...". Ou, "...será que eu reagia daquela forma, porque naquele ambiente eu precisava agir assim, por adaptação, por defesa ou por um mecanismo de sobrevivência psíquica? Mas, não, que eu seja assim...", etc.

É somente quando ganhamos a possibilidade de questionar os rótulos que nos colaram na face, numa época em que não tinhamos como nos defender deles, que conseguimos deles nos livrar.
   
Quando estas atribuições de características projetivas feitas ao bebê e à criança não procedem, não estão de acordo com a realidade interna do indivíduo, pode ocorrer a sensação de falso-eu, ou, de um eu que não corresponde à imagem que dele se faz, seja para menos, seja para mais.   

São as chamadas distorções de auto-imagem.

Elas são como aqueles espelhos dos parques de antigamente em que a pessoa se via mais magra ou mais gorda do que na realidade.

A auto-imagem distorcida é a produzida pelo espelho que diminui ou pelo que aumenta a pessoa real, isto é,  aquela em que o sujeito fica subestimado ou superestimado.

Somente o questionar do indivíduo será capaz de desconstruir qualquer equívoco de imagem que, ao longo de sua história tenha sido formado, permitindo que ele se desfaça daquilo que não identifica como seu e reafirme o que - lhe pertence, triando, apurando e ampliando suas características para além daquilo que lhe fora atribuido de fora para dentro.

É também um trabalho de libertar-se, de trazer sua referência de mundo, sua bússola para dentro de si e de deixar de  funcionar de fora para dentro para funcionar de dentro para fora.

É o trabalho de diferenciar-se, individuar-se, iluminar-se.

Creio que estas sejam algumas das bases e das fundações sobre as quais se constroem os pilares e as paredes da má ou da boa auto-estima.  

As paredes da casa que irá abrigar o Eu.

Um Eu que ao longo da vida precisará ser, inúmeras vezes, revisto e a cada novo olhar, certamente, novos e encantadores mistérios dele se revelarão.  


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