Do outro lado da linha um homem disse:
- Boa tarde, você é psicóloga de casais?
Respondi que sim. E ele seguiu explicando...
- Então, é que eu gostaria de te fazer uma pergunta. Posso?
Respondi novamente que sim. Que estava à disposição, caso pudesse ajudar em algo.
O sujeito continuou...
- É que o final de semana está chegando e minha esposa falou que gostaria que participássemos de um "swing" com outros casais e, então, fiquei na dúvida se isso era certo, se seria ou não bom para nós...Fiquei pensando e resolvi ir até a lista telefônica, procurar uma orientação...Vi seu nome e te liguei para que você me orientasse sobre o assunto. E falou:
" -O que você, como psicóloga de casais, acha de um casal participar de um grupo de "swing"?"
Fui pega de surpresa pelo inusitado da pergunta...Mas, respirei fundo e tentei sintonizar com a questão do sujeito, buscando dentro de meu referencial teórico e clínico, mas, também de minha visão de mundo - já que nem sempre podemos ou devemos ser neutros -, a resposta que podia oferecer-lhe.
Respondi:
- As relações amorosas - como tudo o que é vivo - precisam de nutrientes, regas regulares, adubos (estímulos, incentivos), podas (limites claros e definidos) e espaço para crescer e cumprir suas etapas evolutivas. Etapas estas que dizem respeito ao caminho do seu fortalecimento, enraizamento e da produção de suas flores e seus frutos...
Geralmente, quando um casal manifesta o interesse pela prática do "swing", isso pode ser um sinal de que estão sentindo um vazio e uma desvitalização em seu relacionamento amoroso e sexual, que estejam buscando uma espécie de adubo para a sua relação...
Ocorre que buscar isso fora do relacionamento a dois, tentando abastecê-lo em encontros íntimos com outros casais ou com outras pessoas em situações de intimidade física, num primeiro momento, pode até gerar a ilusão desse abastecimento, mas, em pouco tempo isto se mostrará uma solução ineficaz para o objetivo almejado e até provocar o efeito contrário, se o casal, através dessa prática, ainda por cima estiver se violentando, agredindo princípios que norteiam sua tábua de valores, seu bem-estar físico, psicológico e até espiritual - o que, neste caso, poderia ferir muito os sentimentos de um, de ambos e\ou da sua parceria.
É sempre útil lembrar que existem marcas que o tempo não apaga e, antes de tomar certas atitudes, avaliar muito bem o custo-benefício de suas consequências.
Até onde posso ver algo que faça sentido a partir de meu escopo de conhecimento e de minha experiência como psicoterapeuta, quando um casal está desabastecido, é de dentro para fora que vem o abastecimento e a cura da relação. Por exemplo, regando-a com mais frequência e\ou dando a ela mais espaço para o aprofundamento - que pode ter ficado insuficiente, se não priorizaram um ao outro ou pela dificuldade de se entregarem para o relacionamento.
Toda cura, seja ela individual, conjugal ou familiar pede que algo no mundo interno dos sujeitos seja curado e volte a se desenvolver, evoluir. Mas, é de dentro para fora que esse processo se dá.
Assim, penso que este casal esteja necessitando muito mais um do outro do que de outras pessoas. Precisando se entregarem mais, se doarem mais e interagirem de forma mais nutritiva para a sua relação.
Um ditado diz que "...quem não se envolve não se desenvolve...", entretanto, para muita gente, se revelar, entrar na piscina da intimidade verdadeira juntamente com o outro é muito mais difícil do que praticar sexo em grupo, ou o chamado "swing".
Entregar o corpo, muitas vezes, é muito mais fácil do que entregar a alma...
E conclui a "preleção" telefônica dizendo que, a meu ver, praticar o "swing" com o objetivo de curar uma relação esvaziada, talvez, apenas aumente o afastamento, as frustrações, a dor e a sensação de vazio do casal, destruindo ainda mais o que resta do seu amor...
O indivíduo, após ouvir atentamente, disse:
"- Ah, então, muito obrigado por seus esclarecimentos...Vou pensar..."
Respondi:
- Ok. Espero ter podido ajudar.
Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga
*** Segundo a Wikipedia, "Swing ou troca de casais, é um relacionamento sexual entre dois casais estáveis que praticam sexo grupal como uma atividade recreativa ou social. Existem correntes que consideram o "swing" quando um casal adiciona um ou mais elementos numa relação sexual."