Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga
Muitas vezes, o hábito (vício) de fumar está cumprindo uma função na vida da pessoa; esta função costuma estar ligada às propriedades ansiolíticas (de diminuir a ansiedade, porém, com alta toxidade) do cigarro.
É necessário entender em que aspecto da vida da pessoa o cigarro está preenchendo algo, possivelmente, um importante vazio.
Existe SEMPRE um motivo interno para a existência e manutenção dos vícios, que é a função que eles tem na vida da pessoa.
Ex. O cigarro pode estar funcionando como companhia, como calmante, como colo, como lazer/prazer autorizados internamente, como aconhego materno/paterno, como amigo, como paz artificial, como parceiro/a, etc.
É preciso se analisar, se perceber e tomar consciência procurando se reprogramar e preencher esse espaço vazio com aquilo que é devido, então, substituindo o tabaco por algo funcional.
É preciso quebrar o ciclo inconsciente trazendo para a consciência a associação "sensação de vazio/ansiedade - cigarro", que o psiquismo e o físico fizeram dentro do sujeito.
Quando surgir a vontade de fumar, a pessoa precisa parar e se perguntar:
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O que estou precisando, de um cigarro ou de um abraço apertado? O que estou precisando, de um cigarro ou de uma boa companhia? O que estou precisando, de um cigarro ou de ter mais lazer e prazer, me divertir e usufruir a vida com alegria? O que estou precisando, de um cigarro ou de colo? O que estou precisando, de um cigarro ou de contorno materno/paterno? O que estou precisando, de um cigarro ou de uma relação íntima e satisfátoria, internamente permitida? O que estou precisando, de um cigarro ou de alguém que me ouça empaticamente? O que estou precisando, de um cigarro ou de me livrar de renitentes sentimentos de culpa desnecessários? O que estou precisando, de um cigarro ou de me dar o direito de ser feliz?...
Isso vale para TODOS OS VÍCIOS (compulsão alimentar, bingo, bebidas alcoólicas, drogas, sexo compusivo, consumismo compulsivo, etc): eles SEMPRE estão cumprindo uma função, em geral, ligada à questões que são fontes de ansiedade para aquela pessoa.
Deste modo, percebemos que os vícios, frequentemente, ocupam de modo disfuncional algum vazio no mundo do indivíduo, o qual precisa ser identificado e preenchido de forma saudável e funcional.
Sendo assim, se o cigarro perder a sua função na vida da pessoa, talvez então, ficará mais fácil se desapegar dele.
Então, eu diria que em todos aqueles que apresentam algum tipo de vício: drogas, álcool, jogos, etc., às vezes o que faltou foi\é a mãe, às vezes é o pai, mas, sempre o que faltou e ainda falta é o "contorno", a sensação de proteção, de ter alguém humano com quem contar; e é nesse lugar do elemento humano ausente do passado e do presente, que a comida, as drogas, os jogos, o consumismo, etc. entram para "dar contorno".
Ex. ilusoriamente comidas dão contorno porque não abandonam, não criticam, não recusam, e principalmente, estão sempre disponíveis...
Mas, como não preenchem realmente o lugar que somente um humano preencheria - na infância como pai e mãe e na vida adulta através do autopreenchimento seguido de uma relação satisfatória com outro adulto -, logo que o efeito de dar contorno passe, retornam as angústias e ressurge a necessidade de mais comida, mais drogas, mas bingo, etc. Aí forma-se o vício, que é um circuito auto-alimentador.
Quando alguém está viciado, é preciso fazer a pergunta: Estou precisando disso ou o que preciso realmente é de um abraço profundo e sincero?!