Por Valéria Giglio Ferreira
Era uma vez, uma dissimulada Serpente que vivia a perseguir
um Vagalume.
Como em todas as histórias envolvendo as peçonhentas e os delicados,
mas, iluminados bichinhos, não havia nada que o Vagalume tivesse feito à serpente
que justificasse tal perseguição, a não ser o fato de brilhar onde quer que
fosse: todos gostavam dele, tinha bom papo, inteligência, vivacidade e charme.
Por tudo isso, mas, principalmente pelo fato de saber amar, era tão perseguido pela malvada.
Por tudo isso, mas, principalmente pelo fato de saber amar, era tão perseguido pela malvada.
O coitado não tinha paz! Vivia cercado de
telefonemas, assédios, intromissões em sua vida pessoal, maus conselhos, sem contar os olhares fiscalizantes e os maus-olhados vindos da
disfarçada réptil.
Mas, é claro que a dissimulada cobra não mostrava seus dentes
venenosos assim tão facilmente...
Sua estratégia para capturar o lindo Vagalume eram aquelas próprias dos
predadores mais camuflados: fazia-se de boazinha, gentil, amiga e generosa.
Ela usava desses artifícios para desarmar as defesas da sua presa, de modo a ir pouco-a-pouco apagando a sua luz.
Ela usava desses artifícios para desarmar as defesas da sua presa, de modo a ir pouco-a-pouco apagando a sua luz.
Hipnotizado pela fala da serpente, o Vagalume já não ouvia mais ninguém...Nem mesmo aqueles/as que mais o amavam...
Pessoas que o queriam muito bem alertavam-no para que não desse ouvidos à
perversa, que havia perigo, que colocasse limites no contato com ela, que se protegesse...
Ao que ele respondia: "- não, ela é boa".
Ao que ele respondia: "- não, ela é boa".
Avisos ignorados...
Conforme passava o tempo, a ação venenosa da víbora ia mostrando seus efeitos e
a luz
do Vagalume começou a diminuir: primeiro ele se afastou daqueles que o amavam e que poderiam alertá-lo sobre a inimiga, depois, abandonou seu trabalho onde era um
sujeito criativo e brilhante e, também já não brilhava nos
campos e nas festas onde sua presença sempre havia sido muito requisitada.
Devagarinho ele recolheu-se amedrontado nos escurinhos das matas, acreditando que a sua salvação estava em permanecer leal e amigo da falsa serpente.
Devagarinho ele recolheu-se amedrontado nos escurinhos das matas, acreditando que a sua salvação estava em permanecer leal e amigo da falsa serpente.
E assim, passaram-se os anos...
A malvada sempre por perto não perdendo de vista sua presa no obstinado objetivo de destruir o Vagalume e livrar-se de sua insuportável luz.
A malvada sempre por perto não perdendo de vista sua presa no obstinado objetivo de destruir o Vagalume e livrar-se de sua insuportável luz.
Considerando-se que no mundo animal tudo se dá de modo
bastante primitivo, até hoje não se sabe se a Serpente tinha ou não plena consciência de suas
maldades...
O fato é que o Vagalume foi ficando isolado, definhando,
definhando...abatido por sua própria escolha - ainda que inconsciente -
de ter renunciado à própria luz.
Surpreendentemente, num certo dia ele despertou e percebeu o que havia acontecido.
Neste momento, de súbito ele perguntou à Dona Tigresa, uma amiga em quem muito confiava:
"-Mas, você acha que ela (a serpente) não gosta de mim???".
Pela primeira vez, o já muito fragilizado e doente Vagalume havia se dado conta do ocorrido, e então - somente então - permitiu se fazer esta pergunta: será que a Serpente realmente gostava dele?
Ele havia despertado, suas ilusões haviam se acabado...
Mas, era tarde demais e a sua luz se apagou.
Surpreendentemente, num certo dia ele despertou e percebeu o que havia acontecido.
Neste momento, de súbito ele perguntou à Dona Tigresa, uma amiga em quem muito confiava:
"-Mas, você acha que ela (a serpente) não gosta de mim???".
Pela primeira vez, o já muito fragilizado e doente Vagalume havia se dado conta do ocorrido, e então - somente então - permitiu se fazer esta pergunta: será que a Serpente realmente gostava dele?
Ele havia despertado, suas ilusões haviam se acabado...
Mas, era tarde demais e a sua luz se apagou.
Aí sim, a Serpente libertou-se das suas máscaras e mostrou sua
verdadeira face traiçoeira!
Em seguida, porém, ela retomou sua dissimulação usual e
saiu de fininho como se não tivesse nada a ver com aquela situação, como
se o tempo todo só tivesse tentado ajudar, ocultando assim sua ação
nefasta.
Mas...em seus lábios via-se a clara expressão de triunfo.
E o Vagalume se foi...deixando em seu lugar muita tristeza naqueles que o amavam, muitas lições e reflexões.
Mas...em seus lábios via-se a clara expressão de triunfo.
E o Vagalume se foi...deixando em seu lugar muita tristeza naqueles que o amavam, muitas lições e reflexões.
Dona Tigresa, inconformada, chorou demais ao ver seu amigo partir.
Ela sabia que a partir dali, não aconteceriam mais os divertidos encontros e bate-papos com ele à luz do luar, quando sua graciosidade era mais espantosa e seu brilho mais intenso...
Ainda hoje, ela chora tristonha quando ele lhe vem à mente...
Porém, ficaram as lições sobre o Vagalume e a Serpente.
Lições principalmente sobre a inveja, as rivalidades encobertas e a confirmação de que, muitas vezes, o que incomoda os outros em alguém é simplesmente a capacidade inata que alguns seres têm de brilhar.
Lições principalmente sobre a inveja, as rivalidades encobertas e a confirmação de que, muitas vezes, o que incomoda os outros em alguém é simplesmente a capacidade inata que alguns seres têm de brilhar.
* Inspirado na fábula "A Serpente e o Vagalume".
Releitura feita por Valéria Giglio Ferreira.
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Modo de citação sugerido:
Ferreira, Valéria Giglio - Blog AMAR - ESCOLA DE CASAL E FAMÍLIA