Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga
Há muito tempo reflito e analiso o poder destrutivo dos maus
conselhos. Observo em muitas das histórias de meus\minhas pacientes, a
presença recorrente dos maus conselheiros e más conselheiras a
desencaminhar as pessoas afastando-as do seu próprio Caminho da Felicidade.
Isto é sempre muito assustador para mim que trabalho com a
perspectiva de ajudá-las a encontrar seu caminho de realização pessoal. Muitas
vezes, sinto que me rivalizo e oponho a esses maus conselheiros\as por observar de fora seu poder de destrutividade, envenenamento mental e de obscurecimento da luz.
Isto, claro, mais e mais, na medida
em que observo as pessoas se afastando de seu caminho por meio dessas interferências
malévolas.
Certa vez, li um trabalho em que o autor analisava o papel
desencaminhador da Esfinge no mito de Édipo. Sim, segundo esta análise, se fosse possível Édipo “não
deveria ter parado para conversar com a Esfinge”! Apenas lembrando que esse
encontro do personagem grego antecipa a tragédia edipiana onde Édipo encontra
Laio e o mata sem saber que era seu próprio pai, casando-se em seguida com
Jocasta sua própria mãe, ficando, a partir das consequências deste "descaminho" como aquele passará a "caminhar pela vida cego e sem lar" - segundo as palavras de Freud para as consequências da não-resolução do complexo triangular edipiano pai-mãe-filho\a.
Todos já experimentamos e sabemos que em situações de conflito, incontáveis vezes, precisamos da
ajuda de nossos irmãos\as de espécie, ou seja, de outros seres humanos para encontrarmos a solução ou
aquele caminho que nos levará a um desfecho construtivo e saudável para o
problema. Mas, nesta busca de ajuda não estamos isentos de, como Édipo, encontrarmos e
pararmos para conversar com a esfinge-nossa-de-cada-dia, isto é, de nos depararmos com aquela pessoa – em geral,
querida e até confiável – que acaba, conscientemente ou inconscientemente, nos oferecendo maus
conselhos.
São amigos e amigas –
muitas vezes, mais da onça do que nossos – que lá no fundinho nos invejam e
querem ver o circo pegar fogo para aplacarem seus sentimentos invejosos para
conosco; são pessoas que lá no fundinho dão conselhos que são bons para elas,
mas, ruins para nós, conselhos em que tiram algum proveito - diz o ditado: quando dois brigam o terceiro se aproveita! São pessoas que evidentemente não nos querem bem, mas, não
percebemos isto com clareza devido aos sentimentos de lealdade e laços profundos os quais
aprendemos a respeitar ou não questionar.
Conhecedores da bíblia dizem que o livro da sabedoria é muito claro no que
tange a termos confiança inquestionável: confiança cega somente em Deus.
Mas, nossa necessidade de orientação sobre os caminhos da
vida, aflição e urgência em querermos solucionar problemas nem sempre nos permitem termos
clareza suficiente para discriminarmos e ouvirmos a nossa intuição, o que diz nossa voz
interior confrontando-a com a informação que vem de fora e/ou até que ponto aquele conselho nos
levará ou nos afastará de nossas metas e realizações, até que ponto devemos segui-lo, adaptá-lo ou descartá-lo.
Em todas as áreas da vida é preciso ter cuidado com os
conselhos e orientações que recebemos até mesmo de familiares ou amigos\as que apreciamos. Inclusive de profissionais de ajuda, lembrando que ninguém sabe mais da pessoa do que ela mesma!
Há
amigos\as maravilhosos\as que sempre nos dizem a coisa certa, mas, isto é raro. Quem
os tem têm um tesouro de sabedoria inestimável ao seu alcance. Porém, existem também
as falsas amizades e é preciso estar atento, separando muito bem o joio do trigo.
Conselhos na área do amor isto são particularmente perigosos, considerando
que amar e ser amado é um dos principais objetivos de todo ser humano. Quando
uma pessoa infeliz – consciente ou inconscientemente – se vê convidada a dar um
conselho amoroso é preciso que seja muito madura para não cair em tentação e
passar para o outro a sua visão frustrada e infeliz do amor e da vida amorosa.
Lembro-me sempre daquela história tão frequente em que, num
conflito conjugal uma amiga em comum do casal, considerada por ambos como sendo de extrema confiança,
foi colocada na posição de conselheira e confidente dos cônjuges conflitantes e a
despeito da percepção do casal o que ela fazia era tão somente atirar álcool na fogueira conjugal. Coincidentemente, o histórico da pessoa em questão parece estar relacionado a muita
frustração amorosa, sendo ela própria acometida por frustrações afetivas, sexuais e "vítima" de uma separação
conjugal mal elaborada. O casal não percebia a maldade dos seus conselhos e se
enredava cada vez mais na conversa desencaminhante e intriguista da
má conselheira levando a cabo sua nocividade. Envenenada por essa e outras invasões, a relação afundou.
Digo que na área afetiva isto é particularmente perigoso -
acredito que com conhecimento de causa - por ter assistido à ação dos maus\más
conselheiros em ínumeras histórias, tanto em minhas relações pessoais quanto em
meu trabalho como psicóloga clínica.
A própria pessoa, em geral, não percebe o teor do mau conselho porque parte do príncipio
da confiança no outro que se mostra tão convincente e confiável.
Então, é preciso aprender com os mitos e saber com quem conversar na hora de pedir
um conselho: se Édipo não tivesse parado para conversar com a Esfinge talvez
tivesse pego outro caminho e evitado a tragédia de matar o pai e casar-se com
a mãe.
Muitos dos maus conselhos são dados na maldade e outros são
inconscientemente maldosos. Uns são porque a pessoa quer por a outra a perder-se, outros são porque a pessoa está perdida e só sabe orientar para a perdição; outros ainda, ocorrem porque a pessoa que aconselha simplesmente não está apta a orientar, e neste caso, seria melhor que com humildade renunciasse ao papel e à função de aconselhar deixando isto para quem couber.
A história está recheada de episódios em que amigos mal resolvidos afetiva e sexualmente desencaminham outros, afinal, depois de desencaminhados ficam todos no mesmo nível: o nível do sofrimento e da perdição!
Pai e mãe, pela própria tarefa que lhes cabe, são por assim dizer "conselheiros naturais" de seus filhos/as.
Quando bem orientados são bons conselheiros, mas, quando desorientados também são maus conselheiros e com o mesmo ou até maior poder de destrutividade.
Alguns maus conselhos são diretamente falados e outros são “induções
subliminares”: a pessoa vai construindo um conceito maldoso ou enviesado de mundo que
vai influenciando o outro aos poucos, de modo sutil, quase imperceptivelmente: esses são os
mais nefastos porque atuam no inconsciente, sem passar pelo crivo da razão.
Uma maneira de saber se o que ouvimos nos fará bem ou mal e
se o conselho nos serve ou não é confrontá-lo com a nossa voz interior - ela
não erra nunca! Esta sim é uma voz
confiável porque está conectada com o divino dentro de cada um de nós.
Outra maneira é, em vez de apenas pensar no que foi dito, sentir o que você o que foi dito, pois,
o que pensamos pode nos enganar uma vez
que a mente tem uma natureza dialética e trabalha com o dilema sim-não, mas, o que sentimos é
claro e não nos equivoca: a pessoa sente aquilo e pronto. Esse sentir é límpido como
as águas claras que permitem enxergar o fundo do mar e tomar decisões que vêm de dentro para fora.
Muitas tragédias e desencaminhamentos seriam e ainda podem ser evitados se as pessoas
abandonarem a posição infantil e suportarem ver a maldade por trás de certas
palavras que lhes são ditas “com disfarçada inocência”. Principalmente, quando
essas palavras sejam ditas por pessoas supostamente confiáveis.
É preciso lembrar sempre que: “Confiança cega somente em Deus”!