Dedico estas palavras ao meu querido pai Victor Collin Ferreira
Pensei que meu pai fosse eterno...
Que ele fosse estar sempre ali na casa que morou nos últimos trinta e tantos anos de sua vida, no mesmo endereço, abrindo o mesmo portão, com o mesmo sorriso e acolhimento: “- Vamos descer, entra um pouquinho, vem tomar um café, vem dá um abraço no seu pai!”.
Achava, embora ouvisse falar que com outros pais tinha sido diferente, que meu pai estaria sempre ali ao alcance dos poucos quilômetros que separavam a casa dele da minha, sempre ali ao alcance do telefone de número tão antigo que meus dedos teclavam automaticamente, sempre à minha disposição, como de resto fazia com todo mundo: meu pai estava sempre à disposição de quem dele precisasse, pronto para correr e socorrer o próximo.
Os pedintes da sua rua eram além de pedintes, conhecidos seus, sabiam e chamavam-no pelo nome: “- Seu Victor tá aí?”, gritavam no portão. E lá ia ele dar o litro de leite reservado para cada um deles.
Dizíamos: “- Pai, para com isso, uma hora dessas você leva uma bordoada desses caras!”, ao que ele respondia: “Ah, coitado, tem família, um monte de filhos para criar...” e continuava a atender os mendigos, seus colegas.
Certa vez, um deles sumiu por tempo e no seu retorno, meu pai, conhecendo o pelo nome falou, “Ô fulano, cê tava sumido o que aconteceu?”, ao que o outro respondeu: “Ah, seu Victor, eu tava preso, só me soltaram agora!!!”...e foi embora com o litro de leite para as crianças...
Teoricamente, considerei a possibilidade de perder meu pai para um plano superior, mais elevado e livre das mesquinharias mundanas que tanto o chocavam, talvez um plano mais afinado com a sua sensibilidade e generosidade, mas, era tudo muito distante...
Eu vivia como se meu pai fosse estar ali, sempre à minha disposição.
À disposição para um conselho de urgência, para fazer o resumo de um livro para mim emitindo seu sábio parecer, para discussões filosóficas, para o caso de eu precisar de caronas inesperadas, ou para ele pegar as crianças na escola, emprestar um dinheirinho extra com pagamento a perder de vista nas horas de aperto, e até mesmo, para colocar água benta na eventualidade de haver pendengas conjugais.
Dar conselhos matrimoniais, essa sim, sua missão preferida: adorava dar uma de Santo Antonio conciliador dos casais.
É...muito embora, nesses casos sempre ficasse sutilmente do lado dos homens, pois, dizia que “as mulheres são atrapalhadas e se casam porque amam, mas, também porque precisam de alguém em quem colocar a culpa daquilo que não sai do jeito que elas querem!”
Meu pai era divertido, de bem com a vida...
Uma das últimas coisas que me disse foi: “ Valéria, a vida é sempre boa....”
Descobri que a presença física do meu pai junto de mim não é eterna, mas, sua presença espiritual e nosso amor, sim, são eternos.
Mas...meu pai se foi e como todo sábio, um dia se foi deixando em seu lugar sua luz...
Eu agradeço a Deus-Pai por ter tido um pai bom para comigo, um pai que me amou e que eu amo...E hoje - somente agora - entendo claramente a importância de expressar esse amor...Mas, acho que também fui uma boa filha para ele...
Valéria Giglio Ferreira
Eu agradeço a Deus-Pai por ter tido um pai bom para comigo, um pai que me amou e que eu amo...E hoje - somente agora - entendo claramente a importância de expressar esse amor...Mas, acho que também fui uma boa filha para ele...
Valéria Giglio Ferreira