POLIAMOR: evolução ou regressão???
Seria este o resultado de uma cultura regredida, infantil, ignorante e inconsequente?
Estaria a humanidade evoluindo ou regredindo ao caos relacional primitivo através do fenômeno interpessoal do poliamor???
Se minha análise estiver correta, não vai ficar.
Não por princípios morais ou imorais - a disfuncionalidade principal
nem é essa - embora essa pluralidade sexual e afetiva concomitante de
vários/as parceiros favoreça em muito a falta de ética relacional no
interior desses vínculos -, mas, porque a vida é econômica e este modelo
quebra o princípio universal de economia: o sistema que sobrevive é
aquele mais eficaz e com menor gasto energético (psicológico, físico e
financeiro).
Infantil porque fantasia a possibilidade de ter-se tudo, sem custo e sem renúncias.
Ao escolher tudo, fica esquecido o fato inexorável de que aprofundar
implica em focar, que implica em... renunciar ! Toda escolha implica em
uma renúncia! Não existe aprofundar, enraizar vínculos sem a devida
formação de aliança e vínculos de sobrevivência não admitem dupla,
tripla, quádrupla alianças. Aliança forte é com uma pessoa só. Pois, do
contrário, no frigir das pressões do dia a dia, alguém ficaria de fora, o
que levaria a enormes disputas de vínculo e prioridades. Isso, a
humanidade já viveu.
Então, poliamor é regressão, não evolução.
Evoluir é ser capaz de fazer escolhas adequadas, satisfatórias e plenas.
Por isso, "casamento é para adultos", porque, só um adulto é capaz de
enfrentar esse processo e tudo o que ele abarca de ônus e de bônus.
Ninguém pode ser inteiro/a estando dividido. Amores meios, satisfações meias.
Não há como querer o melhor não dando o melhor. E não há como dar o melhor para todo o mundo.
Acabaríamos selecionando pelo critério de afinidades e isso geraria
desigualdade nas relações do poliamor, o que desencadearia rivalidades,
ciúmes, luta, agressões...perigo!
As escrituras ensinam e advertem que:
" Ninguém pode servir dois senhores, porque, ou há de odiar um e amar o
outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a
Deus e a Mamom". (Lucas 16:13).
Quando alguém mergulha em águas profundas, renúncia à superficialidade do mar...
Tudo na vida tem um preço: um ônus e um bônus; assim, quem quer um amor
profundo precisará ser capaz de abandonar os amores superficiais.
Alguém poderia perguntar, mas, e a possibilidade de que todos sejam amores profundos?
Resposta: não vejo essa alternativa, porque os encaixes não são iguais, não são homogêneos.
Estamos falando de seres vivos com particularidades para mais ou para
menos. É diferente amar duas pessoas singulares e únicas, de amar dois
ou três barras do mesmo chocolate.
Poliamor lembra a sala de degustações, antessala das escolhas próprias da maturidade.
Daí o entendimento do sistema poliafetivo para vínculos que estruturam a
família como sendo uma regressão ao amor onipotente da criança que,
como lhe é próprio e legítimo, vive experimentando sem a nada querer
renunciar que lhe propicie prazer, ainda que fugaz e momentâneo.
"Casamento é para adultos" é o que Nathaniel Branden nos diz em sua fabulosa obra "A Psicologia do Amor".
Então, o "poliamor" faz parte da nova experimentação de parcerias
decorrente do final do Patriarcado e transição para um novo modelo de
conjugalidade e família que ainda está em teste, em formação. Sabemos o
que funciona e ainda estamos ajustando e descartando o que não
funcionar.
Para que o poliamor funcionasse, o ser humano teria
que ser de plástico, desprovido de apego, ciúmes e tudo o que pertence
ao reino das rivalidades e da luta pela sobrevivência, tão próprias das
exigências terrenas e da natureza animal que nos habita juntamente com
nosso eu espiritual.
Quando retomarmos a etiologia das palavras
compreendemos sua essência e ganhamos a possibilidade de não adulteramos
a natureza de cada coisa é sua função... Essa adulteração poderia jogar
a humanidade no caos. E agindo como se tudo pudesse, a humanidade não
está longe disto. Deus nos ilumine!
Existe a orientação que vem com a fundação dos conceitos; o nome já diz PARcerias. Par! Par! Par!
O tempo e as necessidades humanas e planetária farão
sua triagem.
O "Poliamor" não vai ficar,, porque, em algum momento é um sistema que
cria um desequilíbrio entre a energia positiva (prazer) que ele gera e a
energia negativa (desprazer) que ele gasta para se manter, portanto, é
um sistema que está desalinhado dos princípios da história e da economia
que geram e mantém a existência.
Não é um modelo de relacionamento economicamente viável.
Poliamor é mais um equívoco contemporâneo de quem não conhece ou não
entendeu a História e os processos biológicos, psicológicos e econômicos
que fazem com que algo seja mantido ou excluído das dinâmicas
interpessoais humanas ao longo do tempo e do processo evolutivo. Vai
passar. E logo.
Bora crescer e aceitar que nem tudo nos é permitido, que a preservação do prazer passa por limitar o prazer.
Preservar a vida requer equilíbrio e bom senso e...a vida preserva aquilo que preserva a vida...
Valéria Giglio Ferreira
Psicóloga individual, de casal e família
Professora de História e Educadora
www.amar.psc.br