Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga
Em uma pesquisa recente* foi sinalizado que ao traírem seus parceiros, as mulheres atuais justificam tal ato acusando-os de falta de carinho, atenção e intimidade.
É verdade que estamos em outros tempos e que as mulheres de verdade modernas já não são como as Amélias daquela famosa música. Hoje em dia, mulheres de verdade são verdadeiras, primeiro, consigo mesmas.
De todo modo, a informação é curiosa! E..."engraçada"!
Engraçada porque me faz lembrar que esta era precisamente a justificativa dada pelos maridos infiéis de outrora.
Isto, se não é triste é engraçado...
Pois, é exatamente a repetição da justificativa para a infidelidade projetada no outro, não assumida como uma decisão pessoal.
Diziam os maridos de antigamente que traiam porque algo lhes faltava em casa, sendo este algo, carinho, amizade, sexo, intimidade!
Este discurso masculino de que traiam porque suas mulheres eram inadequadas, quando não...loucas, de tanto ser usado e abusado caiu no descrédito e está fora de moda. E agora vêm as mulheres usando a mesma retórica...
Quando a sabedoria popular aponta que as situações de infidelidade reportam a problemas no casamento, devo dizer que concordo.
Sim, a infidelidade pode ser vista como o sintoma de uma relação amorosa doente. Porém, dar à relação doentia este "remédio" me parece uma decisão pessoal daquele/a que trai.
Digamos, então, que os problemas conjugais que costumam estar embaixo da infidelidade são comuns a ambos os cônjuges, mas, a decisão de "contorná-los" traindo é individual.
Em uma de suas canções, Chico Buarque diz: "...te perdoo por te trair..."*. Se não me equivoco, fica sugerida aí a ideia de que numa traição amorosa a responsabilidade pode ser externa ao sujeito que trai, que a responsabilidade pode ser do outro. É bonito dizer assim, fica poético, mas, discordo.
Gosto de pensar que sou justa e se já não concordava com os homens dizendo isto, culpabilizando totalmente suas parceiras por seus atos infiéis, continuo não concordando com esta justificativa no que diz respeito à infidelidade feminina.
Volto a dizer: os conflitos relacionais que costumam estar presentes em situações anteriores ou concomitantes ao ato infiel pertencem a ambos os cônjuges, mas, a resolução de trair é de responsabilidade pessoal.
Haveria outras soluções.
Entretanto, as outras soluções implicam em empreender mudanças intrapsíquicas e extrapsíquicas, ou seja, no mundo do inconsciente, mas, também no mundo consciente, prático, objetivo, real, inclusive colocando ordem em várias relações, vínculos e alianças, especialmente, com as suas respectivas famílias de origem.
Na Psicologia, há um autor* que diz "...a seriedade só começa quando se passa à ação..."
Acredito que nesta perspectiva, as infidelidades masculinas e/ou femininas passam a ser uma tentativa de evitar o agir comprometido, evitar a ação séria que a relação amorosa necessita e merece.
Deste modo, o ato de trair pode ser interpretado como uma tentativa de acomodar uma relação a dois disfuncional, apoiando-a numa terceira pessoa. Ou seja, triangulando com ela, e portanto, sem empreender mudanças reais, estruturais no mundo interior ou no mundo exterior do casal e do sistema familiar.
Assim, a infidelidade é, enquanto triangulação, uma tentativa de manter uma relação conjugal doentia, sem se comprometer com as sérias transformações que a remissão deste tipo de sintoma relacional requer: seja na direção de mudar aquilo que precisa ser mudado para "curar" a parceria amorosa, seja no sentido de dar a história da parceria uma finalização mais digna.
Autora: Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga
* "Fidelidade x Infidelidade" - Parte 2 - Ver postagem seguinte.
Citações e referências:
* Goldenberg, Mirian - Por que homens e mulheres traem? - Ed. Bestbolso
* Hellinger, Bert - Ordens do Amor - Ed.Cultrix
* Mil perdões - Chico Buarque
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Modo de citação sugerido:
Ferreira, Valéria Giglio - Blog AMAR- EDUCAÇÃO CONJUGAL E FAMILIAR
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Valéria Giglio Ferreira
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