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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A ultrapassagem de gerações: sobre o drama de ultrapassar pai e mãe...


Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga

Acredita-se que um dos momentos mais difíceis das relações entre pai e filho e entre mãe e filha seja o momento da ultrapassagem de gerações.

É assim: quando os/as filhos/as nascem, pai e mãe já estão na estrada da vida há bastante tempo. Então, os filhos/as vão crescendo, crescendo, crescendo... e um dia chega o momento de ultrapassar pai e mãe, de ir além deles no processo evolutivo.

Ultrapassá-los naquilo que eles não puderam alcançar: ou porque não quiseram ou porque não tinham os recursos - internos e/ou externos - necessários para fazê-lo.

Muitos pais e mães, pressentindo a aproximação deste momento de alinhamento e ultrapassagem dos filhos/as em relação a eles/elas, tentam inconscientemente impedi-los de fazer isto, "dando-lhes uma fechada", ou acelerando seu próprio passo para não serem alcançados.

São, por exemplo, aqueles pais ou aquelas mães arbitrariamente repressores, ou, que querem ser mais crianças que suas crianças, mais adolescentes que seus/suas adolescentes,  mais bem-sucedidos/as que seus/suas descendentes.

É um momento delicado e difícil para todo o sistema familiar.

Os pais ficam reticentes em serem superados e os filhos/as reticentes em superá-los. Ambos ameaçados de que o crescimento dos filhos/as possa afastá-los geográfica, intelectual, material ou emocionalmente.

Este possível afastamento é resultado da diferenciação: o igual aproxima, o diferente afasta.

E este afastamento proveniente da diferenciação,  muitas vezes, se estende para a rede de irmãos/as, quando então, as rivalidades fraternais são acionadas ou re-acionadas.

Assim como no parto, o bebê nasce pela cabeça, também nos outros partos da vida nascemos pela cabeça e isto significa que a diferenciação dos filhos\as em relação aos pais também começa pela sua forma de pensar que vai se mostrando diferenciada em relação ao sistema da família de origem.
Então, pouco a pouco, cada um vai se individuando e  na sopa psíquica familiar vai adquirindo seu contorno, vai mostrando sua face! 

E quem não se diferencia, adoece...!

Mas, muitos fatores levam a uma atitude reticente de pai e mãe no que tange a se deixarem ultrapassar pelos filhos/as.

Entre os principais motivos estão as angústias existenciais ligadas à ideia do envelhecimento e finitude, pois, quando os filhos/as chegam à idade adulta movimenta-se o ciclo vital da família e pai e mãe, que, até então, eram os adultos da história, vão para a fase seguinte tornando-se idosos/as e tendo que lidar com as tarefas desta fase da vida.

Acabam-se as ilusões de que o tempo não passa.

Aliás, Robert Neuburger diz que: "...o sintoma é uma tentativa do grupo (familiar) de bloquear o tempo..."

Deste modo, pela passagem do tempo e pela transposição das fases do ciclo vital da família, os pais de filhos/as adultos/as passam de condutores a conselheiros dos mesmos/as.

Ocorre que nesta troca de posições, pai e mãe perdem  poder, pois, conselheiros só atuam quando são  convocados a aconselhar. Acontece desta forma, uma diminuição do "pátrio-poder" de comandar os filhos/as bem como de tê-los/as a sua disposição.

Nem todos lidam bem com este "passar o trono e o cetro"  para a geração seguinte.

Muitos filhos/as, neste momento, são aberta ou veladamente,  desencorajados pelos pais a crescerem e deste desencorajamento surgem nos filhos/as sentimentos de acomodação e também de culpa por acharem que seu crescimento poderia resultar em sofrimento para si próprios e para os pais, inclusive o sofrimento de abandono.

Da parte dos filhos/as, pode ainda, surgir o constrangimento de ter o que pai e mãe - e, às vezes, até os irmãos/ãs - não tiveram e não tem.

Costuma ser constrangedor ter o que o outro não tem e isto faz com que muita gente, surpreendentemente, renuncie ao crescimento pessoal e ao sucesso, ou, encontre um jeito de sabotá-los justamente na hora em que eles chegam.

É preciso estar alerta e desprogramar estes meios inúteis de evitar a evolução e a ultrapassagem de gerações.

Outro motivo para este movimento reticente dos pais no que se refere a soltar os filhos/as, diz respeito  à dificuldade de muitos pais e mães em aceitar as suas limitações e as limitações impostas por seu  momento histórico e em aceitar que a geração seguinte esteja mais instrumentalizada para ser feliz e vá mais à frente do que a anterior.

Em aceitar que a geração seguinte vá mais longe, que consiga mais: emocionalmente, fisicamente, sexualmente, intelectualmente, materialmente, espiritualmente, etc.

É quando surgem falas do tipo: " Ah! Mas, comigo foi assim, por que você quer ser diferente?", "Você está querendo demais! ",  "Eu não tive nada disto, por que você está querendo?", ou, "No meu tempo se fazia de tal forma, para que mudar isto? ", etc.



Um exemplo desta dinâmica familiar é dado pelo conto de fadas  "Branca de Neve", onde então,  a madrasta - que poderia ser também aquela mãe invejosa da jovialidade da filha - está aparentemente bem até saber que foi ultrapassada, em sua beleza, pela jovem Branca de Neve.

Este conto demonstra claramente a situação da mulher mais velha - mas, imatura psicologicamente - e sua não aceitação da ultrapassagem da filha, tão cheia de possibilidades.

Outro exemplo é o de uma novela nacional muito famosa, em que o pai de três filhos homens permanece o enredo todo como aquele homem forte e vitorioso, cujos três "pobres" filhos não conseguem jamais superá-lo; em que seus três pobres machinhos se mostram incapazes de ultrapassá-lo, seja em sua estrondosa competência como homem, como trabalhador, como pai ou seja lá o que for. Ao mesmo tempo que o pai lamenta este fato, permanece na vaidosa e distintiva posição de "o melhor", rivalizando ocultamente com seus descendentes.

Lembro-me também da história de um brasileiro, celebridade de fama internacional no futebol, que costumava dar declarações desmerecendo - e em público - seu filho goleiro. Ah! Ele é o cara,  o herói dos esportes e o pai insuperável!!! As reações e sintomas do filho a tanto desmerecimento paterno, logo, também se tornaram públicos.

Um outro motivo frequente para os pais desincentivarem que os filhos/as sigam em frente em seu crescimento pessoal ocorre quando os pais "precisam"  que aquele filho/a permaneça dependente deles, abastecendo- lhes em suas insatisfações emocionais, em suas deficiências financeiras ou colando as partes seu casamento quebrado, espantando para bem longe a chamada "Síndrome do Ninho Vazio".

Considero que isto seja particularmente perverso. Sugere a situação de inversão hierárquica, onde os filhos/as passam a dar proteção para aqueles de quem deveriam recebê-la. 

Há muitas maneiras dos pais e mães sabotarem a ultrapassagem dos filhos e filhas. As que mais observamos são:

1) - Não fazendo espelho positivo para eles/elas, ou seja, não espelhando suas capacidades, mas ao contrário, fazendo-lhes o espelho negativo, mostrando-lhes o quanto são incapazes de se virarem sem pai e mãe e induzindo-os por meio de comunicações encobertas a acreditarem que não sobreviveriam física ou emocionalmente sem eles (pais).  

2) - Estimulando comportamentos infantilizantes, que via de regra propiciam o perpetuar da dependência da cria em relação aos pais, seja financeira ou emocionalmente.  

3) - Imputando-lhes sentimentos de abandono parental a cada vez que tentam se libertar desta prisão doméstica. Exemplo: dizendo-lhes que são pai e mãe coitadinhos/as, vítimas do/a passado, do cônjuge, etc, etc, etc. Portanto, usando de diversas manobras e chantagens emocionais, devidamente dissimuladas.

O que mais funciona para sabotar a ultrapassagem dos filhos/as, em geral, é uma composição destes três fatores, conjuntamente com o encaixe inconsciente que alguns/as filhos/as dão para esta situação.

Então,  alguns/as filhos/as cedem ao emaranhamento familiar e outros/as não. Por quê?

Por inúmeros fatores.

No momento, gostaria de mencionar apenas alguns.

Um deles, é porque  há  filhos/as mais e outros menos "pressionados" e/ou "comprometidos" com as expectativas inconscientes de pai e mãe. Uns mais e outros menos aptos a se diferenciarem de pai e mãe, arriscando o vôo solo.

Há filhos/as  mais outros menos adaptáveis e desejosos desta prisão doméstica representada pelo conforto uterino do lar.

A este tipo de ninho retentor chamamos de "a prisão de cristal": nela, a cela é invisível aos olhos, mas, sentida toda vez que se tente escapar.

Porém, como em toda complexidade das relações humanas, aqui também temos paradoxos.

No mais profundo de seu ser, acredito que o que todo pai e toda mãe mais quer é que os filho/as cresçam, ainda que muitas vezes, coloquem inúmeros obstáculos nesta direção.


Ocorre que estes obstáculos precisam ser conscientizados e transpostos e se os filhos/as não os superam, o que observamos é que  lá na frente, na velhice, estes mesmos pais/mães não facilitadores, dificultantes, acabam se sentindo muito culpados e se perguntam onde foi que erraram com aquele filho/a que por fim ficou preso/a no ninho; preocupando-se ainda,  com o que será dela/a no futuro, quando o casal parental não estiver mais por ali a "ditar-lhes" o caminho das pedras.

Para evitar os desdobramentos acima citados, pai e mãe precisam saber que se soltarem suas crias demasiadamente e antes da hora elas podem se perder ou serem abusadas por pessoas más;  mas,  se segurarem-nas demais, elas podem ficam emaranhadas e presas no ninho parental tendo seu desenvolvimento comprometido por este contexto.

Então, da parte de pai e mãe é preciso um movimento de segurar e soltar, segurar e soltar... gradativamente soltando mais do que segurando e sendo generosos em aceitar e permitir a ultrapassagem dos filhos/as.

Dois tipos de pais e mães são perturbadores para o desenvolvimento dos filhos e filhas: pais e mães ausentes e pais e mães excessivamente presentes.
Na categoria ausentes encontramos os pais e mães ausentes por opção e os ausentes pelas circunstâncias da vida.

O que ambos têm em comem é que é como se os filhos\as crescessem  sem chão, sem o assoalho afetivo e estrutural natural.

Na categoria excessivamente presentes encontramos os pais e mães rivalizantes (rivalizam com os filhos e filhas, são competitivos e não costumam colaborar para o sucesso dos mesmos, ao contrário, se comprazem aberta ou secretamente com o insucesso dos mesmos) e os infantilizantes ( incentivam que os filhos permaneçam infantis e inaptos para a vida adulta autônoma em relação a eles).   

Em comum, os dois tipos de pais e mães rivalizantes têm os fato de não permitirem ou atrapalharem que os filhos\as os ultrapassem, o que causa enorme sofrimentos e sintomas porque reteem o fluxo da energia vital e da programação da vida.

Há autores que associam os processos de autossabotagem com o medo de ultrapassar pai e mãe ( e irmãos\ãs), como uma tentativa de evitar que eles fiquem para trás.
É claro, que esta evitação está ligada à culpa por ultrapassá-los, mas, também ao medo do distanciamento que essa ultrapassagem poderá representar, pois, sabe-se que as semelhanças aproximam e as diferenças afastam.  

MAS, o caminho natural da evolução humana É que a geração seguinte ultrapasse a anterior nas diversas áreas da vida, e assim, sucessivamente.

 E o surpreendente de todo esse processo - e aí está o paradoxo - é que, em geral,  ao final da grande caminhada de desenvolvimento que leva ao amadurecimento de seus filhos/as, esses mesmos pais e mães rivalizantes e obstacularizantes costumam deparar-se com uma enorme frustração e preocupação para com aqueles/as filhotes que ficaram retidos no ninho de origem e  grande orgulho e satisfação com aqueles/as que os confrontaram, cresceram e ultrapassaram!

Talvez, porque... com os/as filhos/as que os ultrapassaram, pai e mãe sintam que cumpriram sua missão.


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Modo de citação sugerido:
Ferreira, Valéria Giglio - Blog AMAR- EDUCAÇÃO CONJUGAL E FAMILIAR   

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Valéria Giglio Ferreira
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