Então, dizíamos que a infidelidade é uma forma de tentar manter uma relação a dois disfuncional apoiando-a sobre uma terceira pessoa e "triangulando" com ela. É algo como colocar um calço numa mesa bamba, resgatando-lhe a estabilidade perdida ou não consolidada.
Porém, o problema de dar este tipo de "encaminhamento" para as dilemáticas matrimoniais é que, em geral, ele não resolve o problema conjugal subjacente e ainda cria outros adicionais.
Numa reflexão clássica, a função social das/dos amantes é a de "estabilizar casamentos instáveis".
Explicando: todo casal tem conflitos, porque, por mais que tenham afinidades, são duas pessoas diferentes e eventualmente discordam em algo de maior ou menor relevância. Estas diferenças precisariam ser confrontadas e negociadas dentro da parceria, em um acordo justo.
Mas, este processo de confronto das diferenças considerando a perspectiva de uma negociação justa implica em mudanças que, nem sempre, um ou ambos os cônjuges estão prontos ou dispostos a fazer.
Então, marido e mulher vão "varrendo os conflitos para baixo do tapete" até que chega um momento em que o tapete conjugal está tão empoeirado que nenhum dos dois o suporta mais. Neste ponto, o nível de tensão no relacionamenrto fica tão alto que um atrito mais sério ou disruptivo se torna iminente.
Uma maneira de tentar abaixar o nível de tensão na relação a dois sem modificá-la, sem negociá-la e sem rompê-la é jogar esta tensão numa terceira pessoa: a/o amante, que passa a ser usado/a como depositária/o do "lixo conjugal", ou seja, daquilo que o casal não consegue metabolizar a dois.
E esta costuma ser uma posição ilusória e cruel: o/a amante ilude-se com a fantasia de ter o/a parceiro/a do outro, repetindo aí a fantasia infantil edipiana de casar-se com o pai ou com a mãe, ou seja, de tomar para si alguém já comprometido/a.
Muito deste recurso de ter amantes remonta ao modelo de conjugalidade patriarcal, onde os homens eram ensinados que sua virilidade estava em jamais rejeitar sexo, fosse com quem fosse; e as mulheres eram ensinadas que a sua sexualidade só seria santa se fosse para fins procriativos. Um tremendo desencontro: eles tinham que ter sexo sempre e elas não podiam ter nunca. No bojo deste conceito de sexo como algo pecaminoso, as esposas acabavam "fazendo vista grossa" para a tercerização do "serviço".
No limite extremo desta leitura podemos dizer que o fato de os homens terem amantes, de trairem, fez quase que parte do modelo patriarcal de casamento e família. E que, de um modo ou de outro, cada um dos três "participantes" dava o seu encaixe para esta estrutura triangular.
Desta ótica, observamos que a maioria dos homens que faziam uso deste expediente, o fazia sem a menor intenção de separar-se de sua esposa oficial. O terapeuta Frank Pittman, numa frase de impacto diz: "...a amante é uma empregada do casamento, quando ela quer passar de empregada à patroa é demitida!...".
Reiteramos que num caso de triangulação amorosa, cada um faz o seu papel: o/a cônjuge infiel o faz ao buscar uma solução para a problemática conjugal fora do casamento; a/o amante, ao entrar em uma relação já constituida - em geral buscando uma resolução edipiana tardia; e o/a cônjuge traido, ao permitir/aceitar a invasão em seu território. Cada qual, costumeiramente, tem motivos inconscientes para tal atitude.
Então, numa história de infidelidade todos perdem algo valioso: o/a infiel perde seu senso de integridade, o/a traído perde seu território e o/a amante perde seu tempo numa relação sem expectativas reais.
Mas, quem mais perde? São os filhos/as que, impotentes e enredados nos desatinos de pai e mãe, ficam a mercê da perpetuação do sofrimento familiar.
Autora: Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga
* "Fidelidade X Infidelidade"
© amar@gmail.com
Todos os Direitos Reservados*.
Lei nº 9.610/98 - Lei de Direitos Autorais
Porém, o problema de dar este tipo de "encaminhamento" para as dilemáticas matrimoniais é que, em geral, ele não resolve o problema conjugal subjacente e ainda cria outros adicionais.
Numa reflexão clássica, a função social das/dos amantes é a de "estabilizar casamentos instáveis".
Explicando: todo casal tem conflitos, porque, por mais que tenham afinidades, são duas pessoas diferentes e eventualmente discordam em algo de maior ou menor relevância. Estas diferenças precisariam ser confrontadas e negociadas dentro da parceria, em um acordo justo.
Mas, este processo de confronto das diferenças considerando a perspectiva de uma negociação justa implica em mudanças que, nem sempre, um ou ambos os cônjuges estão prontos ou dispostos a fazer.
Então, marido e mulher vão "varrendo os conflitos para baixo do tapete" até que chega um momento em que o tapete conjugal está tão empoeirado que nenhum dos dois o suporta mais. Neste ponto, o nível de tensão no relacionamenrto fica tão alto que um atrito mais sério ou disruptivo se torna iminente.
Uma maneira de tentar abaixar o nível de tensão na relação a dois sem modificá-la, sem negociá-la e sem rompê-la é jogar esta tensão numa terceira pessoa: a/o amante, que passa a ser usado/a como depositária/o do "lixo conjugal", ou seja, daquilo que o casal não consegue metabolizar a dois.
E esta costuma ser uma posição ilusória e cruel: o/a amante ilude-se com a fantasia de ter o/a parceiro/a do outro, repetindo aí a fantasia infantil edipiana de casar-se com o pai ou com a mãe, ou seja, de tomar para si alguém já comprometido/a.
Muito deste recurso de ter amantes remonta ao modelo de conjugalidade patriarcal, onde os homens eram ensinados que sua virilidade estava em jamais rejeitar sexo, fosse com quem fosse; e as mulheres eram ensinadas que a sua sexualidade só seria santa se fosse para fins procriativos. Um tremendo desencontro: eles tinham que ter sexo sempre e elas não podiam ter nunca. No bojo deste conceito de sexo como algo pecaminoso, as esposas acabavam "fazendo vista grossa" para a tercerização do "serviço".
Desta ótica, observamos que a maioria dos homens que faziam uso deste expediente, o fazia sem a menor intenção de separar-se de sua esposa oficial. O terapeuta Frank Pittman, numa frase de impacto diz: "...a amante é uma empregada do casamento, quando ela quer passar de empregada à patroa é demitida!...".
Reiteramos que num caso de triangulação amorosa, cada um faz o seu papel: o/a cônjuge infiel o faz ao buscar uma solução para a problemática conjugal fora do casamento; a/o amante, ao entrar em uma relação já constituida - em geral buscando uma resolução edipiana tardia; e o/a cônjuge traido, ao permitir/aceitar a invasão em seu território. Cada qual, costumeiramente, tem motivos inconscientes para tal atitude.
Então, numa história de infidelidade todos perdem algo valioso: o/a infiel perde seu senso de integridade, o/a traído perde seu território e o/a amante perde seu tempo numa relação sem expectativas reais.
Mas, quem mais perde? São os filhos/as que, impotentes e enredados nos desatinos de pai e mãe, ficam a mercê da perpetuação do sofrimento familiar.
Autora: Valéria Giglio Ferreira - Psicóloga
* "Fidelidade X Infidelidade"
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Lei nº 9.610/98 - Lei de Direitos Autorais
Este texto pode ser reproduzido desde que se faça referência à autora e à fonte.
Modo de citação sugerido:
Ferreira, Valéria Giglio - Blog AMAR- EDUCAÇÃO CONJUGAL E FAMILIAR
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Valéria Giglio Ferreira
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